Gabinete paralelo

Essa crônica, em princípio, ia receber o título de “Insensatez”, inspirada numa antiga canção dos mestres Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Dois versos singulares da referida canção é que me motivavam para chamar o texto assim: “Quem semeia vento, diz a razão, colhe sempre tempestade”.

Mas aí, eu vi que o resto da letra de “Insensatez” não batia muito com o que eu estava pensando sobre o momento do Brasil. A canção fala em choro de dor pela perda de um amor, aconselha o uso de sinceridade e exorta um suposto pecador a pedir perdão, sob pena de não merecer jamais ser amado.

Então, somando tudo e elevando a temperatura ao quadrado, sem esquecer que tá faltando maconha, na versão dos negacionistas, resolvi chamar essas mal traçadas de “gabinete paralelo”. Nada a ver com aquele em curso no planalto, trato de esclarecer antes de qualquer mal-entendido.

O “gabinete paralelo” vai ser criado por mim para conduzir a gestão da Copa América no país do carnaval (antes do vírus, deve-se lembrar), compreendendo que se o Brasil já não tem a festa profana para se deliciar ao som dos ritmistas sazonais, que pelo menos não abra mão do seu futebol. Rs.

Ainda não sei bem quem eu irei convidar para fazer parte do meu gabinete. Vou ter que estudar os nomes com muito cuidado. Mas já tenho o perfil dos especialistas, ressaltando que o primeiro requisito é que não tenham escrúpulo em mentir ou mudar as regras do jogo com a bola rolando.

O Brasil tem que assumir a sua identidade de mentir, alterar as regras da partida e dizer o contrário do que já foi dito outra hora. O que tem de valer é o argumento imediato, não importando se um dia o pensamento se movia em sentido diametralmente oposto. A boiada não tem que seguir passando?

Afinal de contas, até o Papa argentino já disse que o povo daqui desse lado de baixo do Equador não tem mais jeito não, “é muita cachaça e pouca oração”. Apesar de se chamar Francisco e ser meu xará, o Papa nasceu nas imediações do rio da Prata. Sempre que puder, vai tratar de nos sacanear.

Sim, voltando ao tema, eu falava do meu “gabinete paralelo” para realizar a Copa América. E dizia que procuro os nomes que o comporão. Ainda faltam os nomes e outras coisas. Mas urge que a ideia saia do papel. Pelo menos os argumentos eu já tenho para justificar o torneio por aqui.

O principal desses argumentos é o de que a vacinação da população brasileira já está “bem avançada” (10% já receberam as duas doses!) e “a pandemia já está devidamente controlada” (rindo até o ano que vem). Além do mais, cloroquina pra malária é o que não falta por aqui. Fora todo mundo!