Tem gente que diz que a humanidade progride a partir de tragédias. Para quem pensa assim, é só depois de uma grande convulsão que os humanos refletem sobre o seu modo de vida, seja na questão da relação com o outro, seja quanto à maneira de pensar. O agir e o pensar, por assim dizer.
Algumas tragédias afetam todo mundo, indistintamente. É o caso nos dias que correm dessa pandemia que enche de dor milhões de pessoas. São as famílias que perderam os seus entes queridos que mais sofrem com o vírus maldito. E as demais, as que não perderam ninguém, se afundam no medo.
É claro que, ainda falando do vírus, muito poderia ter sido evitado (ou minimizado) se os governantes houvessem agido com a celeridade que o instante exigia. Nos Estados Unidos, ressalte-se, a pandemia já está devidamente controlada. Bem diferente do que se passa no país dos perebas.
Outras tragédias, porém, pelo contexto em que estão situadas, só afetam um grupo de pessoas. Em sentido diametralmente oposto, ao mesmo tempo em que elas provocam choro e ranger de dentes de um lado, também enchem de felicidade os corações dos opositores. Vento que venta lá e cá!
A “tragédia do Sarriá”, por exemplo, na Copa de 1982, foi dessas que só afeta uma parte dos envolvidos. Por se tratar de futebol, havia dois lados distintos na disputa: a seleção do Brasil e a seleção da Itália. Melhor para eles. Contra todos os prognósticos, os italianos nos mandaram para casa.
Aquela seleção brasileira de 1982, pela grande quantidade de jogadores excepcionais que reunia, e pelo espetáculo que dava cada vez que entrava em campo, caso fosse campeã do mundo passaria à história talvez como a melhor representação nacional de todos os tempos. Mas perdeu!
E fazendo jus ao timaço que disputou a tal Copa, o Brasil arrasou todos os adversários que encontrou pela frente, até o fatídico dia em que foi eliminado pela Itália: 2 a 1 na União Soviética, 4 a 1 na Escócia, 4 a 0 na Nova Zelândia, 3 a 1 na Argentina. Já a Itália sobrevivia à custa de empates!
A vitória contra o Brasil, por 3 a 2, com os três gols deles sendo marcados pelo atacante Paolo Rossi, fez com que os italianos ganhassem a confiança que precisavam para deslanchar rumo ao título (o terceiro deles – 1934, 1938 e 1982). Na sequência, eles bateram a Polônia e a Alemanha.
Lembrei disso por conta do aniversário de 39 anos daquele evento dramático (para os brasileiros), transcorrido no dia 5 de julho. Eu era um jovem senhor de 25 anos naquela tarde fatídica, mas lembro como se tudo houvesse acontecido ontem. Vacina neles!