Nordestinos no pódio!

Sempre fui de dormir muito pouco. Durmo sempre bem depois da meia-noite. E jamais passo das sete horas da manhã no berço. Por esses dias, tenho dormido menos ainda. Os Jogos Olímpicos de Tóquio, cujas disputas acontecem em grande parte na nossa madrugada, é que me mantém alerta.

Mas até aqui tem valido à pena essa vigília. Embora o Brasil não seja, necessariamente, um papão de medalhas (nunca foi e dificilmente será enquanto permanecerem no poder criaturas que só olham para o próprio “umbigo” – leia-se “bolso”), alguns resultados nos enchem de orgulho pátrio.

São os casos da medalha de ouro no surf, conquistada pelo potiguar (Baía Formosa) Ítalo Ferreira, e da medalha de prata no skate, conquistada pela maranhense (Imperatriz) Rayssa Leal. Dois nordestinos soltos no mundo, sem medo de serem felizes e levando junto o grito de uma multidão.

A pequena Rayssa Leal, uma adolescente de 13 anos, aliás, é a personagem central de uma dessas histórias que desmontam o sectarismo de determinadas teorias mirabolantes. Oriunda de um estado que até um dia desses era governado por um comunista, nem por isso ele deixou de se criar.

A tese recorrente entre os militantes das correntes ideológicas de ultradireita é a de que “comunista come criancinha”. Se isso fosse verdade, a Rayssa só teria sobrevivido se a família dela houvesse fugido para o Egito, mais ou menos como na história do governador Herodes, o infanticida!

Ou então, quem sabe, a Rayssa teria escapado dos dentes dos comunistas porque desde pequenina se transformou numa fada. A “fadinha do skate”, que tremula suas asas de borboleta para sair levitando com um brinquedo de rodinhas preso aos pés, tecendo parábolas ao sabor do vento.

Eu acho que o Ítalo e a Rayssa são a prova viva de que esse país tem um potencial incrível para forjar grandes atletas. Tanto um como a outra vieram do nada e venceram pelo próprio talento. Imaginem só se alguém com poder político tivesse investido neles. Ou investisse em outros deles!

Eu sei que isso é uma utopia. Os melhores mundos saem das utopias. Mas se perdem entre os dedos da realidade cruel. As distopias, ao contrário, estão aí nos espreitando em cada esquina. A maladade, a incompetência e a falta de empatia da maioria dos homens públicos é que traçam esse destino.

Eu só espero, agora, é que nenhum despeitado entre com algum tipo de recurso junto às instâncias decisórias do Comitê Olímpico alegando qualquer tipo de fraude nas notas do Ítalo e da Rayssa, só porque não houve voto impresso. Se alguém ousar, o castigo vai ser passar a vida soluçando!