Por uma questão de “hábito semântico” (isso existe?), a gente costuma entender o futuro como alguma coisa muito distante. Da mesma forma, pela mesma questão (levando em conta que isso exista mesmo), a gente costuma entender o amanhã como alguma coisa imediata, bem ali na dobra do tempo.
Mas se gente parar pra refletir, o futuro é o momento imediatamente seguinte. E o presente só é contínuo porque é feito de uma sucessão de futuros imediatos. Ao contrário do amanhã, que apenas se materializa no outro dia. Simples como a soma de dois mais dois só pode resultar em quatro.
Fico pensando nessas situações metafísico-existenciais enquanto acompanho o Brasil se arrastar na soma de medalhas olímpicas, salvo apenas pelo lampejo individual de um ou outro atleta: heróis que se fizeram praticamente sozinhos, guiados, muitas vezes, pela mão benigna do destino.
Passam-se os anos e não chega nem o futuro nem o amanhã dos atletas olímpicos brasileiros. É como se, usando uma metáfora geográfica/espacial, o pódio estivesse sempre na distância de um horizonte. Ou seja, por mais que se avance alguns metros, o objetivo continua no lugar da visão inicial.
Veja-se que nos jogos de 2016, no Rio de Janeiro, o Brasil conquistou 19 medalhas, sendo sete de ouro, seis de prata e seis de bronze. Medalhas suficientes para fazer o país ficar num (mísero) 13º lugar. Pior: números que eu acho muito difícil serem superados nessa edição lá na terra dos nipônicos.
Quer dizer: provavelmente, caso se confirme esse meu suposto vaticínio, o “país do futuro” (ou “do amanhã”), onde em se plantando, tudo dá (inclusive pés de psicopatas e negacionistas de toda a espécie), falando-se de conquistas esportivas, fez foi regredir nos cinco anos de 2016 para hoje.
E por falar em “amanhã”, nessa minha passagem pelo Rio de Janeiro visitei o museu do mesmo nome, “plantado” numa das extremidades da Praça Mauá, antiga região portuária da Cidade Maravilhosa. E o que mais se vê no interior desse museu são conselhos para a gente semear no tempo presente.
Esse foi um museu inaugurado justamente por ocasião dos Jogos Olímpicos de 2016. Um lugar por onde passam centenas de pessoas todos os dias. Todos passam e leem os conselhos. Mas, ao que parece, todo mundo lê com cara de mera paisagem. E todos esquecem tudo assim que saem de lá.
É isso. No mais, à guisa de completar esse meu latifúndio de tela e papel de hoje, falando dessa falta de perspectiva olímpica brasileira, me ocorre aquela frase do poema de Dante pregada na porta do inferno: “lasciate ogni speranza, voi ch’entrate” (“deixai toda a esperança, ó vós que entrais”).