Francisco Dandão
Na segunda metade da década de 1980, os campinhos de terra do bairro da Base, na região central de Rio Branco, começaram a ver surgir para o futebol um garoto de boa técnica e ótimo porte físico. Filho do ex-zagueiro Cleiber, que marcou época nos grandes clubes da capital, Walter Clay Carneiro Amaral tratava a bola com intimidade, na posição de meia-atacante.
Quando completou 15 anos (ele nasceu no dia 19 de janeiro de 1975, na capital acreana), porém, por ocasião de uma pelada de adultos na chácara de um amigo (o odontologista Luiz), Walter Clay foi escalado para jogar no gol. E mandou tão bem na posição improvisada que descobriu qual era o seu verdadeiro lugar num time de futebol. Daí pra frente foi só seguir o fluxo.
Alto, forte, ambidestro, logo as peladas de subúrbio nos finais de semana ficaram pequenas para ele. Então, no início do ano de 1993, o professor de Educação Física Joraí Salim Pinheiro, vizinho de Walter, o levou para um teste nos juniores do Rio Branco. Recebido e aprovado pelo técnico Paulo Roberto de Oliveira, Walter permaneceu no Estrelão até 1996.
Logo depois de chegar ao Rio Branco, o “Clay” do Walter virou “Zenga”, em alusão ao goleiro da seleção italiana da época. “Apesar da comparação que me valeu o apelido, eu precisei dar muito duro para conquistar um lugar no time principal. A concorrência era deveras pesada. À minha frente tinha o Klowsbey e o Valtemir. Só isso”, disse o ex-goleiro.
A mudança para a função de treinador
Durante 16 temporadas, Walter permaneceu dentro das quatro linhas defendendo os chutes dos mais diversos atacantes. Nesse período ele vestiu, além do Rio Branco, as camisas de outros quatro clubes: Atlético Acreano, Andirá, Juventus e Adesg. E depois, como o futebol estava no seu sangue, mal resolveu pendurar as luvas ele se transformou em treinador de goleiros.
“Eu sempre fui estudioso das técnicas de defesa. Então, logo que eu deixei de jogar fui convidado para assumir a função de treinador de goleiros. Quem me convidou foi o professor Ulisses Torres, pessoa que enxergou em mim um potencial para essa atividade. Na época, ele estava no Vasco. Depois as portas se abriram e eu fui migrando de um clube a outro”, contou Walter.
Mas apesar de ter muita gratidão por Ulisses Torres, Walter Zenga disse que o melhor treinador com quem trabalhou foi Paulo Roberto de Oliveira que, de acordo com o ex-goleiro, não se limitava aos trabalhos técnicos, também agindo como um pai dos jogadores mais jovens, orientando-os para que além de atletas também se tornassem homens de bem.
Zenga também fez questão de citar outros dois personagens do futebol acreano como criaturas de destaque: o falecido diretor do Rio Branco Edmir Gadelha e o ex-árbitro Antônio Neuricláudio. “O doutor Edmir gostava tanto de mim que às vezes eu até abusava da bondade dele. E o Neuricláudio foi um árbitro excepcional, de muita integridade”, afirmou o ex-goleiro.
Momentos distintos e um time perfeito
Das suas memórias inesquecíveis como atleta, Walter falou de dois momentos: um bom e outro ruim. O primeiro foi uma defesa que ele fez jogando pelo Independência, num chute potente do meia Maradona, do Rio Branco. E o segundo foi um frango que ele tomou defendendo o Rio Branco, contra o Ji-Paraná. “Essas duas cenas, eu não esqueço jamais”, garantiu.
Modesto, o hoje treinador de goleiros Walter Zenga não quis se incluir numa seleção acreana dos jogadores que ele viu em ação. Para ele, um time quase perfeito formaria com Klowsbey; Paulo Roberto, Chicão, Cleiber e Michel; Mário Sales, César Limão e Testinha; Dim, Palmiro e Ley. “O Testinha, desses aí, foi o que me deu mais trabalho”, afirmou divertido.
Quanto ao caminho que um jovem que deseje ser jogador deve trilhar, Walter tem a resposta pronta. “O menino deve começar entendendo que não basta ser jogador; tem que ser atleta. Uma coisa é diferente da outra. Ser atleta inclui ser honesto, profissional e buscar modelos para desenvolver coisas positivas, sem vícios ou algum mau costume”, disse o personagem.
Por último, ao tempo em que opinou sobre os caminhos que o futebol acreano deve seguir, Walter, que é funcionário público e bacharel em direito, falou que não ficará no esporte por muito tempo mais. “O que o futebol do Acre precisa é de investimentos por parte da federação. E quanto a mim, o meu plano é passar, daqui a pouco, à condição de espectador”, finalizou.