Escrevi na crônica passada sobre o dia em que um lateral-esquerdo acreano anulou o lendário ponteiro-direito Mané Garrincha. O lateral, no caso, foi o Antônio Maria, que jogou toda a sua vida no Atlético Clube Juventus, glorioso Clube da Águia, afastado dos gramados já faz é tempo.
Para relembrar e contextualizar o objeto daquele texto, eu explico que o jogo referido foi um amistoso entre Juventus e Rio Branco, comemorativo dos sete anos de fundação do clube acreano, em 1973. Garrincha era convidado do Juventus e jogou um tempo por cada um dos contendores.
O cracaço bicampeão do mundo, na primeira parte do jogo, vestindo a camisa do Rio Branco, se limitou a fazer lances burocráticos e não foi pra cima do Antônio Maria em nenhuma oportunidade. Parecia que estava com medo do lateral acreano. Aliás foi isso mesmo o que se disse na época. Medo!
Na segunda parte do jogo, entretanto, como se para confirmar que o Garrincha estava com medo do Antônio Maria, o gênio das pernas tortas, vestindo a camisa do Juventus, acabou com o jogo. Mais de uma vez deixou o lateral Stélio, do Rio Branco, no chão, com dribles desmoralizantes.
Eis que, conforme eu falei na crônica anterior, um dia desses o Antônio Maria me relatou que o comportamento passivo do Garrincha com a camisa do Rio Branco deu-se por conta de um acordo feito antes do jogo. O presidente juventino pediu para o gênio “amaciar” para cima do seu lateral.
A história estaria explicada. Mas faltava um detalhe: qual teria sido o teor da conversa entre o presidente juventino e o craque Garrincha que, como todo mundo sabe, não era de fazer acordos, ainda mais desse tipo de “abrir” para os laterais adversários? Qual teria sido o argumento do dirigente?
O mistério foi esclarecido com a informação que me chegou depois da publicação da crônica, pela voz do dileto amigo Mário Jorge Castro, o Gaguinho, que está sempre em contato direto com o Antônio Maria, uma vez que os dois moram hoje em Foz do Iguaçu, ao lado das famosas cataratas.
De acordo com o Mário Jorge, foi difícil convencer o Garrincha de fazer um “jogo de compadres”, fingir que ia pra cima do lateral e depois recuar para algum jogador de meio de campo. O bicampeão mundial gostava mesmo era de sujar o calção do lateral, fazer o cara cair de cara no gramado.
Nem a ameaça de deixa-lo sem jantar no dia do jogo, teria feito o Garrincha concordar com o estratagema. Segundo o Mário Jorge, o acordo só foi firmado quando os dirigentes juventinos prometeram ao gênio duas garrafas de Cocal (a melhor cachaça da época). Foi isso. Simples assim!