Olhando os recentes resultados da Copa do Brasil, quando nenhum time ranqueado em posição inferior conseguiu passar pelos seus adversários, eu sou tentado a pensar, diferentemente do que eu escrevi um dia desses, que a zebra é um bicho em pleno processo de extinção nos gramados tupiniquins.
Confesso que se o meu time do coração não entra em campo, eu torço sempre pelo teoricamente mais fraco. Uma torcida que não tem dado assim muito certo nos últimos tempos, uma vez que os favoritos têm nadado de braçadas em águas plácidas. Nem sinal de onda puxando para o mar aberto.
Na noite dessa terça-feira que passou (10), por exemplo, torci pelo paranaense Azuriz no confronto contra o Bahia. E torci pelo Tocantinópolis no embate contra o Athletico Paranaense. E torci pelo alagoano CSA no duelo contra o América Mineiro. Toda essa torcida foi completamente vã.
O Azuriz (nome de uma gralha azul que predomina nas araucárias da região sudeste do país) até que encarou os baianos de frente, mas sucumbiu na cobrança das penalidades. Já o Tocantinópolis e o CSA não deram nem para assustar os seus oponentes. Foram eliminados sem nenhuma piedade.
Aí veio a noite de quarta-feira e eu ali, fazendo uma prece para um santo qualquer das causas impossíveis, vela benta numa das mãos e rosário de cem contas na outra, torcendo pelo sucesso do baiano Juazeirense e do piauiense Altos, contra, respectivamente, os favoritos Palmeiras e Flamengo.
Novamente tudo em vão. Se não foi um passeio o que empreenderam os favoritos, pelo menos também não houve sustos. Placares apertados (Palmeiras 2 a 1 e Flamengo 2 a 0), porém dando a impressão de controle total do ímpeto dos candidatos a intrusos. Tranquilidade absoluta.
Na quinta-feira minha torcida foi toda para o Clube do Remo, contra o Cruzeiro. Até ampliei as ferramentas da fé. Em vez de uma vela, acendi duas. Em vez de somente um rosário nas mãos, pendurei outro no pescoço. Este de cor azul, para reforçar devidamente os tons do Leão paraense.
Lasquei-me de novo. O Remo, provavelmente por não contar com o reforço daquela chuva que cai todas as tardes em Belém, ou por ter esquecido no aeroporto lá deles os litros de açaí, farinha e tucupi imprescindíveis para dotar de força as canelas dos atletas, dançou na cobrança das penalidades.
É por aí, meus caros amigos. A zebra parece mesmo ser um bicho em extinção nos gramados brasileiros. Se isso se confirmar nos próximos tempos, o futebol vai ficar muito chato. Vai deixar de ser aquele esporte de surpresas e todo mundo vai apostar somente nos favoritos. Muito chato!