Nostradamus

Muito provavelmente, leitor, ao se deparar com o título dessa crônica de hoje você imaginou que o velhinho aqui iria entabular uma tese sobre o alquimista e médico francês que viveu no século XVI, famoso até os dias que correm pela sua suposta capacidade de predizer o futuro. Nada mais natural. Se fosse eu o leitor, certamente também pensaria a mesma coisa.

Esse Nostradamus do qual eu falo aí no título, porém, é outro bem diferente. Trata-se de um “Brasileiro do Acre”, de sobrenome no registro civil e tudo o mais exatamente como nestas aspas aí atrás. Trata-se do filho do músico pernambucano José Belarmino, que foi maestro da Banda de Música da Guarda Territorial do Acre nas décadas de 1940, 1950 e 1960.

Acontece que o Nostradamus, além de ser filho do maestro José Belarmino, que denominou todos os sete herdeiros com esse sobrenome, digamos, “localizador de origens”, foi um dos melhores futebolistas que pisaram nos campos acreanos. Um virtuose com a bola nos pés que formou uma dupla de meio campo lendária com o igualmente “cracaço” Dadão.

Pois foi justamente com o Nostradamus que eu fui conversar na tarde de quinta-feira, numa das salas da Federação de Futebol do Acre. Fui colher informações sobre a carreira dele para escrever um texto que deverá sair na próxima revista da referida entidade. Conversamos por um bom par de horas. Uma conversa cheia de lembranças do tempo dele de “boleiro”.

Muita coisa que ele me disse, eu já sabia. Na primeira metade da década de 1970, os meus olhos de adolescente tiveram o prazer de ver o que ele (e outros de semelhante habilidade) fazia com a bola no gramado castigado do estádio José de Melo. Ele, eu posso dizer, já que fui testemunha ocular, tinha uma intimidade com a bola quase que irreal!

Mas também, muito do que ele me disse na nossa conversa eu devo confessar que não sabia. Por exemplo, que as primeiras peladas, na tenra infância, foram disputadas com bolas de “seringa”. Pra quem não sabe essa era uma bola feita com sobras de látex, de circunferência irregular e quase sem peso. Dificílima de dominar. Talvez daí se explique a habilidade dele!

E eu também não sabia que em 1969, de passagem pelo Rio de Janeiro, ao disputar uma pelada num daqueles campinhos do Aterro do Flamengo, ele foi visto pelo conterrâneo Tião Macaco, que era funcionário do Fluminense e que o convidou para ingressar no Tricolor das Laranjeiras. Nostradamus tinha 19 anos, ficou com medo da cidade grande e não topou.

Essas revelações sobre a carreira do Nostradamus Brasileiro do Acre, além de muitas outras coisas mais, assim como fotografias de época, você verá, leitor, em dezembro, no número 4 de Futebol Acreano em Revista. Quanto ao “Nostra” (era assim que os parceiros de futebol o chamavam), dizem que, aos 64 anos, ele ainda bate uma bola como poucos. Eu acredito!

Francisco Dandão