Nos primeiros anos da década de 1970, os clubes acreanos empreenderam um grande movimento de importação de jogadores de outros estados do país. O futebol era, oficialmente, amador, mas o certo é que quase todo mundo pagava os seus craques, principalmente os que vinham de fora.
De modo geral, os “importados” se transferiam para o Acre em condições excepcionais, com direito à “casa, mesa e luz”. Ou seja: com a garantia de lugar para morar e comer, ficando com o salário livre, e tendo como única preocupação treinar todas as tardes e jogar nos finais de semana.
Numa das primeiras levas de importados do Atlético Acreano, em 1972, chegou o carioca Nirval, ponteiro esquerdo de rara habilidade, com passagens por Volta Redonda e Madureira. Aos 19 anos, cheio de gás, Nirval, com os seus dribles, logo ganhou a confiança da galera atleticana.
Dois anos depois, em 1974, ainda em busca de um título que não acontecia desde 1968, o mesmo Atlético foi a Porto Velho buscar um lateral de chute fortíssimo, então jogador do Ferroviário, que atendia pelo pomposo nome de Carlos Magno, mas que veio carimbado pelo apelido de Pintão.
Com pouco tempo de convivência no alojamento do clube, que ficava ali por perto da Gameleira, Nirval e Pintão se tornaram companheiros inseparáveis. Qualquer folga e os dois “parças” se mandavam para a noite quente de Rio Branco para paquerar, dançar forró e tomar umas e outras.
Os dois craques se entendiam perfeitamente, tanto dentro quanto fora de campo. O problema era na hora de pagar as contas, depois das farras, regadas a muito churrasco e inúmeras garrafas de cerveja. Invariavelmente, um queria passar a despesa para o outro. E então dava o maior imbróglio.
Valia tudo para fazer o parceiro ficar no prejuízo, desde o clássico “paga aí que depois eu reponho” (promessa sem nenhuma possibilidade de ser cumprida), passando por providenciais e fingidos desmaios em plena mesa de bebedeira, até a fuga de um dos farristas, num descuido do outro.
Um dia desses, conversando com o Pintão, ele me confidenciou que era especialista em fugas pelos fundos dos restaurantes, deixando o Nirval com a conta nas costas. De acordo com o relato do ex-lateral, o lugar mais fácil de “fugir” era o bar O Casarão, que tinha uma piscina no quintal.
Mas ele (Pintão) me falou que só começou a fazer isso depois que descobriu que o Nirval saía de casa com o dinheiro escondido no sapato. Na hora de pagar a conta, Nirval revirava os bolsos e dizia que estava duro. “Aí, eu não podia deixar o malandro me passar a perna”, disse rindo o Pintão!