Kung Fu

Por esses dias, remexendo numa coleção de jornais acreanos da década de 1970, eu me deparei com uma história deveras curiosa. A história de uma briga na qual se envolveu o cracaço Escapulário, meia do Independência nos melhores anos do referido clube, numa birosca do bairro Seis de Agosto.

A história foi contada pelo saudoso jornalista José Chalub Leite, criatura que era chegada numa boa molecagem, mas que, segundo me consta, não costumava inventar nada (talvez até aumentasse um pouquinho, colocando umas pinceladas mais fortes aqui e ali, mas só um pouquinho).

De acordo com a narrativa do Zé, o Escapulário era fanático por filmes de Kung Fu, assistindo várias vezes todas as fitas que passavam nos cines Acre, Rio Branco e Recreio. E tanto assistiu a esse tipo de filme que um dia, depois de três anos de sessões, ele entendeu que sabia tudo da luta secular.

O Escapulário estava convencido de que dominava as técnicas do combate oriental. E por isso vivia chamando os “parças” para lutar. Bastava tomar uns gorós que o Escapulário desafiava um oponente para medir forças. Como todo mundo do grupo de boêmia era amigo, ninguém topava o desafio.

O tempo ia passando e nada do Escapulário conseguir alguém que colocasse à prova o seu aprendizado. Na busca de um combate, ele percorria todos os bairros de Rio Branco nos finais de semana. Segundo consta, o citado craque pensou até em tentar achar um opositor fora do estado.

Eis que, lá pelas tantas, numa roda de sinuca no final de uma das ruas do bairro Seis de Agosto, um maluco que estava sentado numa mesa de canto enxugando umas geladas resolveu topar o desafio e enfrentar o craque numa pugna no estilo “vale tudo” (inclusive cascudo, cuspe na cara e dedada).

Para evitar que alguém chamasse a polícia, o Escapulário e o seu desafiante combinaram lutar no quintal nos fundos da birosca. Logo se juntou uma roda de curiosos e rapidamente foi criada uma bolsa de apostas. Pela fama do craque, a maioria das testemunhas fez uma fezinha no taco dele.

Quem conheceu o Escapulário sabe o quanto ele era magrinho. O desafiante, porém, quando tirou a camiseta os músculos saltaram. O cara era tão forte que respondia pelo apelido de Maciste (outro herói dos filmes que passavam no Acre), do tipo que rasgava latas de querosene com as mãos.

Quando o juiz Porco Russo autorizou o combate, o Escapulário soltou um grito estridente, igual ao que ele via nos filmes. O inimigo, nem aí, encheu o craque de tabefe. A turma correu para apartar. Foi aí que o “Escapa” descobriu que a única coisa que ele aprendeu da arte marcial foi o grito!