Sombria primavera

Sexta-feira passada começou a primavera no hemisfério sul. É nessa estação que as flores costumam brotar em todos os recantos. As flores tanto encantam pelas cores quando seduzem pelo perfume. O céu costuma ficar mais azul e as árvores mais verdes. E tudo parece mais leve ao redor da gente.

Por alguma razão que eu não sei determinar, entretanto, a primavera deste ano, pelo menos nas ruas do Rio de Janeiro, onde eu passo uma temporada, está mais para inverno ou outono. Chove pra caramba, as nuvens se mostram carrancudas e os dias se vestem de cinza. Tudo muito estranho!

Até aqui tem sido uma primavera sombria. Não sei muito bem o que pensar, mas tenho uma ideia. O meu palpite é o de que a natureza, de alguma forma, está demonstrando a sua tristeza pela violência estimulada que grassa em todos os cantos. São muitas armas e poucos livros circulando por aí.

Menos mal que tudo pode mudar de uma hora para outra. A esperança não pode morrer. Os brasileiros têm uma escolha a fazer no fim de semana próximo. Pelas mãos de todos, depois de teclar e confirmar os números nas urnas eletrônicas, poderá, quem sabe, no amanhã, nascer um novo tempo.

Mas é necessário uma enorme dose de senso crítico para não se deixar enganar pelos falsos profetas ou messias. Em tempos de fraudes e mentiras reiteradas, é preciso saber ler o ódio nos olhos dos psicopatas. A falta de piedade e empatia deve ser lembrada a cada passo no caminho do sufrágio.

O eterno Rei Pelé, uns anos atrás, quando de uma das suas inúmeras entrevistas, declarou que o povo brasileiro não sabia votar. Quase provocou uma hecatombe nuclear com esta declaração. Só não foi linchado porque não cansava de escrever poesias com os pés. O tempo provou que ele tinha razão.

A vantagem da democracia, que alguns querem destruir a qualquer custo, porém, é que sempre existe uma nova eleição e os erros anteriores podem ser corrigidos. Como dizia o antigo poeta baiano (ou seria coreano?), errar é humano. Permanecer no erro, entretanto, é burrice ou ignorância.

Tomara saiam das urnas de domingo ares de liberdade que possam fazer tudo voltar ao normal na vida deste país. Tomara as urnas engravidem de alegria. Penso, nos meus devaneios, que a democracia e as estações do ano tem algo em comum. Das urnas pode vir um inverno ou uma primavera.

E que tudo, se me for concedido o direito de fazer um pedido, possa ser resolvido num único turno. Mais ou menos como na Copa do Mundo. Um turno basta. Returno fica para campeonatos de longo prazo. Não é o caso aqui. Urge que se conheça o campeão. Talvez assim voltem as flores!