Eu vinha vendo por aí nos últimos tempos muita gente se confundindo no emprego da palavra “mito”. Era um tal de mito pra lá, mito pra cá, vozes que ecoavam em uníssono à passagem de uma certa criatura. Como eu achei tudo muito estranho, corri aos dicionários para saber o que isso significava.
Aí encontrei a seguinte definição para o aludido vocábulo: “(…) representação fantasiosa, espontaneamente delineada pelo mecanismo mental do homem, a fim de dar uma interpretação e uma explicação aos fenômenos da natureza e da vida.” Ou seja, nada a ver com o que diziam!
Então, como uma coisa puxa a outra, fiquei pensando numa palavra que, de alguma forma, pudesse derivar do tal vocábulo “mito”. Pensei pra lá, pensei pra cá, puxei as orelhas dos dois neurônios (o Tico e o Teco) e eles me apresentaram, como num passe de mágica, a expressão “mitômano”.
Nova consulta ao “pai dos burros” para saber o que, exatamente, viria a significar a palavra “mitômano” que, em princípio, eu já trato de esclarecer, não se trata de xingamento à mãe de nenhum árbitro de futebol ou, muito menos, remédio para sarar curuba, bicho de pé ou espinhela (des)caída.
“Mitômano”, de acordo com o livrinho que eu citei anteriormente, é um sujeito que mente compulsivamente, “mente com tanta convicção que é capaz de crer na própria mentira. Faz da mentira a sua principal qualidade. Adquire dependência da mentira e passa a ter a necessidade de mentir.”
O livrinho também esmiúça o conceito, estabelecendo como exemplo da prática do mitômano as falas “de líderes políticos que criam discursos utópicos e conseguem a crença do público”. Tal e qual fez aquele sacripanta de bigodinho que promoveu um massacre humano no século passado.
Mas eu falei do crápula de bigodinho só porque me ocorreu como exemplo maior. A culpa, é claro, não é do bigodinho. Um canalha está cheio de seguidores nos tempos que correm, de cara limpa e sem sinal de pelos sobre os lábios. A prática, no entanto, é a mesma. E a vontade de matar idem.
Naturalmente, como nem tudo continua absolutamente igual, mesmo porque as águas do rio seguem mudando de instante a instante, mentira agora se chama “Fake News”. E como, igualmente agora, existem legiões de robôs, ninguém mais precisa, necessariamente, discursar ao vivo para multidões.
Para azar de todos, principalmente dos tolos que compram as palavras dos mitômanos, o diabo há muito tempo deixou o rabo no inferno, usa Chanel nº 5 (pra disfarçar o cheiro do enxofre), desliza sobre as águas em veículos motorizados e veste Prada. “Mito” é uma coisa, “mitômano” é outra!