Revirando papéis encontrei por esses dias uma entrevista que eu fiz com o Almiro, goleiro que se caracterizou por jogar em times pequenos do futebol acreano, entre 1971 e 1989. Uma carreira que passou, sucessivamente, por São Francisco (onde jogou mais), Amapá e Andirá.
O Almiro, aliás, era um goleiro baixinho, do tipo daqueles que o torcedor que não o conhecia não acreditava, quando o via, que ele pudesse defender alguma coisa. Mas era só o jogo começar que o homem parecia um gato, o tanto que saltava nas bolas e dificultava o vazamento das suas traves.
Na verdade, ele tanto saltava como poucos quanto tinha um senso de colocação absurdo. De forma que ele estava sempre onde a bola ia. Parecia um caso de atração magnética. Os atacantes adversários mandavam a bomba e o cara estava exatamente na trajetória da então chamada “deusa branca”.
O problema do Almiro, durante toda a sua carreira, foram os times em que ele jogou. Ele sempre defendeu times de poucos recursos. E então, nesse caso, não se pode dizer que as zagas das referidas agremiações eram do tipo “muralhas intransponíveis”. Ele pegava muito, mas não fazia milagres.
Mas o que eu quero mesmo lembrar nessa crônica é uma história que o referido personagem me relatou, quando de uma excursão do simpático São Chico à cidade de Sena Madureira, numa época que os 140 Km. da estrada para a “capital do Iaco” não eram asfaltados e nem havia iluminação.
Esportivamente, a excursão foi um sucesso. O São Francisco, que alinhava nas suas hostes, além do Almiro, players como Chico Alab, Bismarck, Zé Pinto, Melinho Elias, Madureira, João Trebina (pai do rei Artur) e Vicente Barata (jogador e presidente), venceu o amistoso por 1 a 0.
Ressalte-se que era muito difícil um time “de fora” vencer em Sena Madureira. O município tinha muita gente boa de bola. E, segundo relatam, o pessoal da cidade também costumava intimidar os jogadores dos times visitantes. Diz a lenda que os caras de lá diziam: “Se ganhar, vão apanhar.”
Talvez com um certo receio de alguma eventual confusão posterior ao jogo, a delegação do São Francisco declinou do convite de pernoitar na cidade e resolveu enfrentar os buracos da rodovia 364, com os jogadores amontoados na carroceria de um caminhão do tempo da 2ª Guerra Mundial.
Eis então que, lá pelas tantas, na escuridão da estrada, o caminhão estancou. O “chofer” deu na chave várias vezes e nada do bicho pegar. A turma tratou de empurrar, e nada. Foi aí que alguém descobriu que o tanque de gasolina havia caído! “Batemos carapanã a noite toda”, contou o Almiro.