Eu já fui um leitor compulsivo, daqueles de ler vários livros ao mesmo tempo (e sem confundir os relatos, viu?). Mas isso foi num outro tempo. Agora leio muito menos, provavelmente por conta dos muitos atrativos visuais que aparecem a cada dobra do caminho. Provavelmente, por isso!
Mas, ainda assim, apesar de ler menos do que antigamente, não abro mão de gastar minhas retinas com as páginas dos livros que me caem às mãos, seja por busca própria, entrando nas hoje escassas livrarias ou garimpando na internet, seja pelas doações dos vários amigos generosos.
Nessa categoria da busca própria, adquiri e li em novembro duas obras imprescindíveis da literatura esportiva brasileira: “Os subterrâneos do futebol”, do falecido cronista esportivo e técnico gaúcho João Saldanha; e “Dossiê 50”, do também falecido jornalista pernambucano Geneton Moraes.
Puxando para o lado do pitoresco, João Saldanha conta historinhas hilárias sobre as excursões do Botafogo quando ele era o treinador, na segunda metade da década de 1950. Historinhas, como não poderia deixar de ser, cujo grande protagonista era o ponteiro direito Mané Garrincha.
De acordo com Saldanha, Garrincha era um sujeito absolutamente impossível de se marcar, inclusive fora do campo. Não tinha concentração ou regra que segurasse o homem. Quando ele (Garrincha) resolvia namorar, sempre dava um jeito de fugir do hotel onde se hospedava a delegação.
No caso do livro “Dossiê 50”, Geneton Moraes entrevistou todos os jogadores e o técnico da seleção brasileira da Copa de 1950, aquela que nós perdemos para os uruguaios no Maracanã. Geneton gravou os depoimentos doloridos daquelas criaturas que não conseguiram fazer o dever de casa.
Para culminar, Geneton Moraes foi a Montevidéu conhecer o pensamento do ponteiro Alcides Edgardo Ghiggia Pereyra, o carrasco que fez um gol “impossível” no goleiro Barbosa, chutando sem ângulo uma bola entre o corpo deste e o poste esquerdo da trave brasileira. Um absurdo!
Já na categoria “doações dos amigos”, tenho dedicado esses últimos dias de 2022 para devorar três belas obras das mais encantadoras poesias: “Universos cotidianos”, do mineiro Victor Kingma; “Verticais”, da cearense Samila Soares; e “Istória do povo do lugar”, do acreano João Veras.
Sabe aqueles livros que a gente lê bem devagar e volta para ler de novo? Os três são assim. “É muito cedo pra achar que já é tarde demais”, diz Kingma. “Que as nossas verdades não sejam absolutas, mas sim constantes”, fala a Samila. Enquanto o João decide “Partir do Acre pelo ônibus circular.”