Sururu na Floresta

Nesse período de carnaval, como há muito tempo eu deixei de cair na esbórnia, andei botando a leitura em dia. E assim, por isso ou por aquilo, me deleitei com a leitura de um cronista clássico da literatura esportiva brasileira. Justamente o pernambucano Mário Filho, falecido em 1966.

Mário Filho, até hoje tido como o maior cronista esportivo do Brasil em todos os tempos (e olhe que teve muita gente pra lá de boa), imagino que todo mundo sabe (mas não custa lembrar), era irmão do não menos famoso Nelson Rodrigues. Tão importante o Mário que deu o nome ao Maracanã.

Pois foi lendo Mário Filho, numa crônica publicada para a extinta revista O Globo Sportivo, em 1945, que eu fiquei sabendo da criação do “sururu” no futebol nacional. De acordo com o cronista, “o sururu foi uma instituição, senão respeitável, pelo menos respeitada no futebol brasileiro”.

Houve um tempo, segundo o relato do Mário Filho, “em que a cerimônia do sururu era considerada quase obrigatória, um complemento do match. Qualquer coisinha arrastava o público para dentro do campo. Para dar no árbitro. Para tomar as dores de um jogador agredido por outro”.

Havia sururu de todas as formas e em vários lugares, relatou o célebre cronista. Em alguns momentos, nessa situação de invasão do campo, a manifestação, via de regra, era da torcida do time derrotado, inconformada com as decisões de Sua Senhoria, o juiz do espetáculo recém findo.

Mas havia também o sururu de um canto da arquibancada, às vezes até entre torcedores da mesma agremiação, às vezes pela provocação de um torcedor “inimigo”. O pau comia solto e era frequente o caso de os brigões irem parar em alguma unidade hospitalar, para lamber as respectivas feridas.

E havia o sururu no meio da rua. Esse era o pior deles. Dava um trabalho danado à força militar e os sujeitos de ânimos mais exaltados iam parar numa delegacia de polícia, prestar as devidas explicações ao delegado de plantão. Depois todo mundo ia pra casa, esperar o domingo seguinte.

Como a selvageria não podia continuar indefinidamente, as autoridades, tanto esportivas quanto policiais, foram tomando medidas para findar os conflitos. E então, com o passar do tempo, as diferenças entre os torcedores passaram, via de regra, a ser manifestadas só “no grito” mesmo.

Eu li a crônica do Mário Filho e não pude deixar de lembrar que na década de 1970, em Rio Branco, o desportista Martim Bruzugu, pai do Tião Catega, por aquela época dirigente do clube Floresta, criou o Sururu na Floresta. A diferença é que enquanto no Rio era porrada, no Acre era festa!