Um dia desses eu publiquei numa rede social uma fotografia dos ex-jogadores Gilberto (Vasco da Gama-RJ) e Roberto Ferraz (Rio Branco-AC). A foto, datada do ano de 1982, quando de um amistoso entre as duas equipes, evocou recordações e não foram poucas as manifestações dos internautas.
A maioria das manifestações dava conta de um período áureo do futebol acreano, quando milhares de pessoas lotavam as dependências do estádio José de Melo. E todas, sem exceção, lembravam de como surgiam grandes jogadores no espaço territorial da antiga República de Galvez.
Aí, fruto da minha própria percepção, eu lembrei que surgiram mesmo ótimos jogadores no futebol acreano da época amadora, mas também os clubes importavam criaturas que jogavam muita bola. E que se mudavam para o Acre para faturar o que jamais ganhariam nos seus estados de origem.
Sim, eu falei que o futebol acreano era amador. Mas isso não impedia que os craques “importados” fossem regiamente pagos no local. Alguns se mudavam por polpudos salários. Outros ganhavam bons salários e empregos públicos. E outros, além do mais, ainda faturavam presentes, por fora.
Da maioria dos estados, o caminho era de mão única. Ou seja, só era feito o percurso rumo ao Acre. Mas havia um estado, o Amazonas, no caso, que esse percurso acontecia em mão dupla. Tanto ia jogador num sentido quanto no outro. E quase todos tinham um desempenho acima da média.
Se não estou enganado, aliás, o intercâmbio futebolístico entre Acre e Amazonas foi iniciado com o atacante acreano Hugo Sena, no final da década de 1950. Hugo, que na sua terra natal jogara por Boulevard, Atlético e Independência, foi para Manaus jogar no Santos do bairro Cachoeirinha.
O Santos foi só a porta de entrada do acreano Hugo Sena no futebol amazonense. Depois, ele, que era tido como um jogador que atacava com refinada técnica e defendia com eficiência, jogou ainda pelo Nacional e pelo Rio Negro, além de vestir a camisa da seleção amazonense inúmeras vezes.
De memória, enquanto escrevo, lembro de outros cinco jogadores que fizeram a ponte Acre/Amazonas, em anos distintos das décadas de 1970 e 1980: o armador Mariceudo (Nacional), o goleiro Xepa (Fast), o lateral Bento (Nacional), o zagueiro Som (Rio Negro) e o atacante Pistolinha (Fast).
Enquanto isso, no sentido inverso, do Amazonas para o Acre, migrou uma legião de artistas da bola. Valdir Silva, Tadeu, Saúba, Júlio César, Augusto, Mário Vieira, Julião, Marquinhus, Cleiber, Emilson, Palheta, Flávio, Bolinha, Saldanha, Dida, Dico… E vários outros que eu não lembro.