Um domingo desses fui a uma feira livre numa praça próxima ao endereço onde atualmente eu amarro o meu burro, na chamada Cidade Maravilhosa (cada vez mais, apesar dos pesares de praxe). E aí, enquanto ia enchendo a sacola de compras, bati o olho num belo feixe de macaxeiras.
Como eu sou um adepto desse tipo de alimento, não pensei duas vezes em perguntar o preço ao feirante. Num lapso de memória do local onde eu estava, porém, esqueci que por aqui a galera chama “macaxeira” por “aipim”. Só me lembrei alguns segundos depois, ante o estranhamento do vendedor.
Resolvido o impasse da minha compra, e passando de um ponto a outro, fiquei refletindo o quanto o Brasil é gigante e o tanto que é diversa a maneira de como determinadas coisas (ou situações) são chamadas (entendidas) em cada recanto ou “biboca”, de norte a sul, leste a oeste.
Em se tratando de futebol, então, são tantas as diferenças que muita coisa que se diz ali, não pode ser compreendida aqui ou alhures. Para testar, resolvi chegar à minha sala de trabalho, na segunda-feira subsequente, e falar para os meus colegas de algumas expressões específicas do Acre.
Dito e feito, eu cheguei para uma criatura que a gente chama de “Matucão”, ponteiro arisco oriundo de Nova Iguaçu, e disse que dei show no fim de semana numa pelada na praia, quando fiz dois gols, depois de driblar adversários dando “banhos de cuia” e “xagões” (é assim que se escreve?).
Pra completar, falei para o carinha que o meu aquecimento antes da pelada foi dar mil “pancadinhas”. O meu colega pirou e ficou me olhando com cara de cachorro quando cai do caminhão de mudanças. Não entendeu nada. Necas de pitibiriba. “Banhos de cuia”? “Xagões”? “Pancadinhas”?
Depois de um instante tratei de fazer a devida tradução. Mas não sem antes reafirmar todas as palavras ditas por mim antes, separando bem as sílabas, fazendo suspense e ar de surpresa, como quem estranha o fato de o sujeito não entender nada do que eu tinha dito, sendo tudo tão claro. Rsrs.
E aí, quando eu “traduzi” “xagão” por “drible da vaca”; “banho de cuia” por “lençol”; e “pancadinha” por “embaixada”, o Matucão sorriu e disse: “Mano, lá no Acre vocês falam outra língua, tudo errado. Talvez seja por isso que um time de vocês ainda não chegou à série A. Tô fora.”
É isso. Agora, quando eu vou à feira, tenho o cuidado em não perguntar mais o preço da macaxeira. Também não me refiro mais, pelo menos quando converso com o amigo Matucão, ao drible da vaca como “xagão”, lençol como “banho de cuia” e embaixada como “pancadinha”!