Tenho visto por aí, nas mais diferentes rodas de discussões efêmeras sobre futebol, gente que defende apaixonadamente o uso do VAR (Árbitro Assistente de Vídeo) e criaturas que se descabelam cada vez que o referido sistema tecnológico “entra em campo” pra definir o que “pode não ter sido”.
A turma que defende o uso da ferramenta explica que não existe mais gol roubado, aquela bola que quica em cima da linha, mas não entra, e que é dada como se tivesse ultrapassado a linha fatal. Fato que acontecia frequentemente, inclusive em Copas do Mundo, se não me falha a memória.
Já a galera que abomina o uso da tecnologia argumenta que era mais interessante para o futebol quando existia a dúvida, quando cada um via uma coisa e não se convencia com o ponto de vista dos adversários, principalmente se o erro do juiz beneficiasse o seu time do coração.
Independentemente de quem venha a ter razão, o certo é que o tempo não anda para trás e a tecnologia veio para ficar. E, sendo assim, não tem choro nem vela. Um centímetro a mais para lá ou para cá pode determinar a ascensão de uns às nuvens ou o mergulho de outros ao fundo do abismo.
Eu fiquei perdido nesses devaneios e não pude deixar de lembrar de uma excursão do sempre glorioso Flamengo carioca ao Acre, na década de 1960, oportunidade em que depois de vencer o Rio Branco por 2 a 1, na primeira partida, sobreveio o empate com o Juventus no jogo de despedida.
Segundo os registros hemerográficos da época, não fosse um gol roubado, no finalzinho do segundo tempo do jogo, o Flamengo teria sofrido um inesperado revés para os amadores do Acre e, nesse caso, teria sido objeto de profunda gozação dos torcedores adversários espalhados pelo país.
A jogada irregular teria acontecido depois de um escanteio que o atacante Almir, do time carioca, ganhou no grito. Um jogador chamado Rodrigues, do Flamengo, tocou a bola pela linha de fundo, mas, ante os protestos do Almir, o árbitro Sebastião Araújo assinalou o tiro de canto.
O escanteio inexistente não teria maiores consequências se depois da cobrança o atacante Almir não tivesse segurado o calção do goleiro Zé Augusto, o impedindo de saltar. Pra completar, César Maluco, outro atacante do Mengão, vendo que não alcançaria a bola de cabeça, fez o gol com a mão.
Em tempo de VAR, isso não pode mais acontecer. Por último, só pra efeito de registro, o Juventus daquela jornada épica formou da seguinte maneira: Zé Augusto; Carlos Mendes, Pedro Louro, Mozarino e Campos Pereira; Dadão e Passada Larga; Nemetala, Jangito, João Carneiro e Touca.