Expulsão precoce

Muito provavelmente, uma pessoa que não tem hoje mais de 40 anos jamais ouviu falar de um cantor chamado Ronnie Von. Mas ele foi um artista famoso, principalmente nos já distantes anos das décadas de 1960 e 1970, que fez parte de um movimento musical conhecido como Jovem Guarda.

Por conta do sucesso do artista, muitos garotos do interior do Brasil daquela época foram batizados como o nome do dito cujo. Batizados ou apelidados. Se os cabelos de um menino fossem compridos e puxando para tons mais claros, todo mundo já achava que era a cara do Ronnie Von.

O Acre, nessa onda de homônimos, por exemplo, teve muita gente apelidada dessa forma. Eu mesmo conheci meia dúzia de três ou quatro, sendo o mais famoso deles o professor de educação física, ex-parlamentar, ex-empresário e tantas outras coisas José Edmar Santiago de Melo.

Diferentemente da grafia do artista da música brasileira, o apelido do personagem acreano era escrito com as duas palavras se unindo em apenas uma: Ronivon. E, segundo consta nas crônicas, quem primeiro o chamou assim foi um locutor esportivo, ao ver o jovem cabeludo entrar em campo.

Atacante de pouca intimidade com a bola, Ronivon marcou raros gols e não teve uma carreira longeva dentro das quatro linhas (jogou tão somente no extinto Internacional e no Atlético), ficando mais conhecido da galera pelos episódios inusitados em que vez por outra se via envolvido.

Um desses episódios me foi contado pela própria criatura, numa rodada de cerveja, em um final de semana, quando saboreávamos uma panela generosa de rabada afogada em tucupi. No caso, uma expulsão quando ele jogava pelo Saci do Ipase (Internacional), antes mesmo de entrar em campo.

Na época em que a história aconteceu, aí pelos primeiros anos da década de 1970, o futebol acreano era jogado em rodadas duplas. Por não haver iluminação artificial, a preliminar era marcada para às 14 horas, num sol daqueles de bronzear jacaré e rachar a cabeça dos mais sensíveis.

O Internacional, nesse dia, faria a preliminar contra um time chamado Alvorada. Por malandragem, para não fazer o aquecimento mais demorado sob o sol, o Ronivon chegou atrasado, quando o time já estava todo arrumado. Aí ele vestiu-se às pressas e ensaiou uns exercícios fora do campo.

Nisso, um jogador reserva do time adversário passou por trás do Ronivon e deu-lhe uma “dedada”. O homem virou uma fera e partiu pra dar porrada no gaiato. O árbitro Antônio Soares, por desconhecer a presepada, quando viu a briga não contou conversa: expulsou na hora o Ronivon!