Uns meses atrás encontrei o amigo de adolescência, Emerson Carneiro, transitando pelas infovias. Há muito tempo não nos falamos presencialmente. Estamos distanciados no espaço. Ele mora no Acre e eu passo uma temporada no Rio de Janeiro. Milhares de quilômetros entre nós.
Mas aí, como não existe distância que a tecnologia pós-moderna não possa fazer virar pó, passamos a trocar mensagens diárias. Das saudações de praxe, nos primeiros dias do contato, acabamos enveredando pelas reminiscências. Causos em que as lembranças de um e outro se completam.
Algumas vezes falamos sobre as presepadas do nosso tempo de imberbes ginasianos no Colégio dos Padres, naquele prédio ali da avenida Epaminondas Jácome que hoje virou museu, onde, ressalte-se, aprendemos a torcer fervorosamente pelo sempre glorioso Atlético Clube Juventus.
Das presepadas, uma que me ficou gravada na memória foi a do dia em que um gaiato (como ele já partiu para o além, vou me reservar ao direito de não declinar o nome do dito cujo) aproveitou a hora do recreio para esconder boa parte das bolsas nas quais carregávamos o material escolar.
Deu uma confusão danada. A segunda parte do dia foi dedicada a procurar as bolsas “sequestradas”. Não sei como o sujeito conseguiu fazer aquilo. Cada bolsa estava escondida num lugar diferente. Naturalmente, o mesmo camarada que as escondeu foi quem encontrou a maioria delas.
Outras vezes falamos de personagens nossos contemporâneos que o correr da vida tratou de levar para locais incertos e não sabidos. Personagens como um amarelinho chamado Marlon. E outro, um certo Raimundo, da cabeça enterrada entre os ombros, que chamávamos de mago Moloque.
O Marlon, que além da tez amarela da pele era bem magrinho, quando queria impor a sua vontade, ante o olhar furioso da turba, saía-se com a seguinte expressão: – Foi o padre quem deu essa ordem! Alguma objeção? Essa frase era a senha para todo mundo baixar a crista e obedecer ao Marlon.
Enquanto isso, o Moloque se notabilizou pelas ideias comunistas que vivia pregando, em tempos de ditadura militar. O Moloque jamais dividia a merenda que levava de casa, mas afirmava que somente um regime onde não existisse a propriedade privada seria capaz de salvar a humanidade da fome.
Sim, pra não dizer que eu não gosto de falar de flores, havia as peladas depois das aulas de educação física. O Emerson era atacante, como o irmão dele, Edson Carneiro. Eu era meio campo, do tipo que preferia mais desarmar do que construir. Nem eu nem ele levamos a carreira adiante. Felizmente!