Dependendo do ponto de vista, o desenho de Brasília, a capital federal, lembra um avião, um pássaro ou uma cruz. Quem gosta de velocidade aposta na primeira opção; quem gosta de poesia opta pela segunda possibilidade; enquanto isso, os sadomasoquistas escolhem a cruz!
Mas qualquer um pode ter as três percepções em momentos distintos. Se a visita à cidade for “rapidinha”, a imagem é a do avião. Se, no entanto, o sujeito resolver assistir o por do sol no lago Paranoá, aflora a figura do pássaro. Já se a visita for por motivos políticos, a escolhida é a cruz.
Essas divagações me afloram à mente por conta de uma estada de três dias nessa semana que recém passou na referida cidade. Fui de pura bobeira, sem maiores compromissos. Só mesmo para rever o lugar onde, em algum momento do século anterior, adquiri o meu título de mestre.
Cheguei a imaginar que ia encontrar um clima belicoso nas ruas, dada a efervescência que toma conta dos poderes Executivo e Legislativo. Mas não vi nada disso. É certo que em todos os lugares ouvi comentários desairosos a figuras das referidas casas. No mais, porém, tudo tranquilo!
Na televisão a briga é bem mais intensa do que nas ruas. Cassa os mandatos dos pilantras… Deixa-os em paz, que eles não têm culpa… Vai ter golpe… Não vai ter nada disso… Bateram a carteira do povo… São todos inocentes… Enfim, a mídia mostra mais do que a gente pode ver nos bares.
Noves fora, tudo parece mais ou menos nos mesmos lugares. A torre, de cujo alto se vê parte do planalto; as trilhas por entre as superquadras, onde ainda é possível realizar uma caminhada esperta; e um ponto, no meio da esplanada, de onde se pode vislumbrar bem ali a linha do horizonte…
Tudo isso envolto pelo aroma de incensos, saídos não se sabe muito bem de onde. Os incensos formam um capítulo a parte na história de Brasília. Cidade mística. Parece que todos esperam, a qualquer momento, algum tipo de mágica que possa redimir os pecados e expulsar os patifes.
Brasília parece tão igual que até o futebol candango continua no mesmo lugar. Ou seja: lugar nenhum. É que apesar de haver um campeonato estadual em pleno andamento, a imprensa não dá a mínima para os times locais. Notícias mesmo só as das grandes equipes nacionais.
Na sexta-feira (8), por exemplo, a única referência que eu encontrei nos jornais sobre o futebol do Distrito Federal foi uma pequena nota dando conta de que o Gama teria passado para as semifinais da Copa Verde. O desenho do futebol de Brasília é o de uma cruz. Sem pressa e sem poesia!