Romário calado é um poeta

O ex-atacante não se conteve na Comissão do Impeachment, no Senado, e na presença da advogada Janaína Paschoal, que fazia denúncia contra Dilma, comparou seu trabalho com um tal camisa 11 da seleção brasileira do passado… Ou seja, ele mesmo.

Poucas horas depois, saiu uma entrevista na imprensa em que ele próprio se relacionava entre os cinco maiores jogadores da história do futebol, ao lado de Pelé, Maradona, Zidane e Ronaldo.

Romário perdeu de vez a humildade. Já não a tinha, mas por esses dias bateu o recorde. E um ególatra de deixar Freud de cabelo em pé.

Essa auto-exaltação chama a atenção para a sua CPI, que não funciona há um mês. A tal CPI do futebol que preside e promete “moralizar o futebol brasileiro”.

A última reunião de sua comissão foi no dia 6 de abril – e não há nada marcado pela frente. Pouco se produziu desde a sua criação, no meio do ano passado, a não ser desgastar os dirigentes da CBF, desafetos de Romário.

Pouco foi investigado de fato – ou veio a público. Em agosto, quando terminar, a CPI deve entregar relatório pouco elucidativo.

Só não o fara, se virar o jogo rápido, e passar a analisar o que precisa ser avaliado com relação aos parceiros da CBF, e não somente a entidade como núcleo de corrupção. Enfim, os agentes, os terceiros, as empresas que fazem usufruto da imagem das atividades da Confederação…

Romário tem (ou tinha) um papel importante de tentar desenvolver no Congresso, uma cultura de maior comprometimento de parlamentares com o desenvolvimento do futebol de forma equânime no País e, ao mesmo, como indutora da educação aos menos favorecidos.

O ex-craque talvez tenha sido o maior jogador brasileiro com um assento no Congresso. Mas poderia ter avançado mais, se controlasse a empáfia e se dedicasse aos problemas reais do futebol – e usasse a tribuna do Senado e a imprensa para isso.

Certa vez, Romário disse que Pelé calado era um poeta. De fato, Pelé também não é boa referência fora de campo na condução de propostas de avanço do esporte. Mas Romário também não fica para trás nesse quesito – tem provado a cada dia que fora das quatro linhas ele se sai melhor calado.