Pitola

Francisco Dandão

Um dia desses, numa das minhas muitas andanças pelo mundo, passei por Brasília e tive o prazer de encontrar o ex-jogador Antônio Roberto Mendes, mais conhecido pelo apelido de “Pitola”, ponteiro-esquerdo que jogou por 14 anos no glorioso Atlético Clube Juventus-AC.

Conversamos durante o espaço de duas horas, no hall de um hotel na Asa Norte da Capital Federal, protegidos pela temperatura amena do ar-condicionado, uma vez que do lado de fora fazia um calor sufocante.  Foi uma conversa cheia de reminiscências sobre o futebol acreano do passado.

A minha primeira dúvida a respeito do citado personagem eu tratei de esclarecer logo à primeira indagação: Pitola ou Kitola? Disse-lhe que tem quem defenda uma e outra grafia para o seu apelido. Ele foi taxativo: “Pitola”! E ainda me contou o motivo que o levou a ser chamado assim.

“Eu era menino e um dia fui encarregado por um tio meu a comprar um parafuso. Mas ele salientou que tinha de ser na ‘bitola’ certa. Só que eu esqueci esse nome e cheguei para o vendedor falando em ‘pitola’. Foi o suficiente. O apelido pegou para a vida toda”, contou-me o ex-jogador.

Quanto à sua vitoriosa carreira, Pitola disse que tudo começou num campo do bairro Seis de Agosto, no segundo distrito de Rio Branco. “Aí, um dia, em 1972, o meu irmão Carlos Mendes me levou para fazer um teste nos juvenis do Juventus. Fui aprovado e fiquei por lá até 1985”, explicou.

Tímido, Pitola contou que nem queria ir fazer o teste e que lhe satisfazia plenamente as peladas vestindo as camisas dos times do seu bairro. O irmão Carlos Mendes, que era lateral-direito do Juventus, porém, entendeu que o talento do pequeno ponta-esquerda precisava ir bem além.

Da minha parte, eu lembro muito bem da postura do Pitola em campo. Embora ele fosse escalado com a camisa onze, numa época em que a função principal dos ponteiros era ir à linha de fundo e cruzar a bola, o que Pitola fazia de melhor era “fechar o meio de campo”, marcar alguém.

O técnico Aníbal Tinoco confiava nele como ninguém para exercer marcação forte sobre algum jogador dos adversários. “Uma vez, na Bolívia, o Tinoco me disse que se eu anulasse o armador dos caras, ele me daria um litro de uísque. Cumpri a tarefa e ganhei o uísque”, garantiu divertido.

Nos dias atuais, prestes a completar 62 anos, Roberto Pitola é proprietário de uma pousada em Brasília. O futebol, apesar de importante na sua vida, ficou para trás. Tanto que a sua última vez no estádio foi na Copa do Mundo. Grande Pitola, uma das lendas da história do Juventus!