Romero Jucá tentou “driblar” Romário na CPI do Futebol

Relator da CPI do Futebol, Romero Jucá escancarou nos últimos meses para que time “torce” no Senado: a CBF.

A demonstração de complacência com a “Bancada da Bola” no Congresso irritou Romário, criador e presidente da Comissão, e em março último foi protagonizado um bate-boca entre o ex-jogador e Jucá.

Romário, desafeto da CBF, propôs a CPI para investigar a Confederação Brasileira de Futebol, aproveitando o abalo sofrido no exterior pela entidade, por conta de revelações feitas pelo FBI no chamado “Caso FIFA”.

Assim, há uma insistência grande do Baixinho em convocar para oitivas dirigentes e ex-dirigentes da CBF e de prestadores de serviço da entidade, além de pedidos de informações financeiras dos citados – ressalta-se aqui, porém, que Romário estranhamente nunca demonstrou interesse em apurar a fundo os contratos da CBF com patrocinadores e emissoras de TV, justamente as duas linhas de investigação mais importantes do FBI no “Caso FIFA”.

Numa sessão da CPI de março último, Jucá e aliados da “Bancada da Bola” na Comissão derrubaram todos os requerimentos de Romário de convocação do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e de outras pessoas ligadas à entidade. Por conta disso, houve discussão entre os dois senadores.

O Bom Senso FC, grupo que reúne jogadores e ex-jogadores de futebol, já havia alertado no final de 2014 ao Governo Federal da intenção de Romero Jucá e o deputado federal Jovair Arantes, relator do impeachment de Dilma na Câmara e aliado de Eduardo Cunha, de inserir no projeto de Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (que prevê a renegociação de dívida dos clubes do futebol brasileiro), hoje sancionada, incentivos fiscais à importação de peças para aerogeradores – a prática é conhecida como “contrabando legislativo” ou “jabuti”, e refere-se ao fato de uma questão ser adicionada a uma proposta legislativa que não tem nenhuma relação.

Na época, o Bom Senso chamou a ação de “manobra vergonhosa” e ironizou em nota o desvirtuamento destacando que “a dívida dos clubes não contribui em nada para a importação de aerogeradores no Brasil”. Veja matéria da época, com a nota oficial, sobre o assunto aqui.

Já convidado para assumir o Ministério do Planejamento, em abril, antes mesmo da fatídica sessão de admissibilidade do impeachment de Dilma na Câmara, Romero Jucá tentou apressar o fim da CPI do Futebol no Senado, prevista para terminar somente em agosto. Para isso, apresentou um relatório final de quase 400 páginas. Nele, só há propostas de melhorias do futebol brasileiro, sem que seja pedida a punição ou indiciamento de qualquer investigado.

Com isso, Romário se indispôs novamente com Jucá. O ex-jogador não colocou em votação o documento do relator e disse que os trabalhos da CPI seguiriam até a data final.

No entanto, há quase dois meses que a comissão não se reúne e existem entraves a serem resolvidos, pois apesar do trabalho da “Bancada da Bola”, na última sessão do grupo as convocações de Ricardo Teixeira e do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero (pela segunda vez), voltaram à pauta e foram aprovadas, mas um pedido de anulação da sessão (alegou-se falta de quórum na sessão) levou o assunto ao plenário da Casa, que ainda não se manifestou.

Hoje, com a volta de Romero Jucá ao Senado, não se sabe se ele seguirá na relatoria da CPI do Futebol.