Com preços de ingressos não tão em conta para qualquer modalidade, a multidão de brasileiros que se observa nas arenas da Rio 2016 é o chamado torcedor de sofá, que não sai de casa com tanta frequência assim para ir a uma competição esportiva.
Não por isso, os gritos da torcida com brasileiros em ação não passam do “Sou brasileiro, com muito orgulho…” e “Eeee, lê, lê, ô, lê, lê, ô, lê, lê, ô, Brasil” – como no Mundial de futebol, onde uma horda de gente abastada foi pela primeira vez aos estádios, gerando um destoante cenário do que se estava acostumado a ver nos campeonatos de futebol pelo País afora na maneira de torcer.
Talvez a única reação mais diferenciada da torcida até aqui tenha sido no jogo de basquete do Brasil contra a Argentina. Não estava na arena, mas no Parque Olímpico. Uns telões transmitiam a partida.
O canto da torcida finalmente saiu dos “gritos de guerra” acima citados, e foi parar em um de provocação aos argentinos, que na verdade foi lançado na Copa do Mundo (cita-se, depois que os argentinos criaram um dizendo que Maradona tinha sido melhor do que Pelé) e resgatado agora pelos brasileiros, em meio à expectativa formada pela partida do torneio olímpico.
Aliás, em se tratando de argentinos, esta aí um diferença da torcida brasileira: existiam vários deles no Parque Olímpico vestidos com camisas com nomes de jogadores de basquete do País, algo que não se vê no Brasil nem em partida de vôlei, hoje segundo esporte nacional – a mania aqui é restrita somente ao futebol.
No fundo, a plateia padrão dos Jogos Olímpicos é composta pela família brasileira de classe média, casais e grupos de descolados, e alguns amantes do esporte. Parcela expressiva, nota-se, não é frequentadora de estádios e arenas esportivas.
Talvez esteja aí uma das reflexões do que é capaz de transformar um evento desse porte no País. Por conta da Copa do Mundo e de construção de modernos estádios, o que se viu depois foi uma escalada de preços de entrada em partidas de campeonatos de futebol de primeira linha. Na Olimpíada, o que poderá sair dessa presença de brasileiros nos eventos?
Os Jogos Olímpicos são muito dispersos e há variadas modalidades esportivas. O vôlei já tem público cativo. O basquete no Brasil tem torcida muito semelhante à de clubes de futebol, mas em número muito menor. O restante das práticas é restrito a nichos.
Pode acontecer um aumento no número de torcedor de sofá, ampliado por um leque de atrações na TV. Ou, por outro lado, um incremento específico de espectadores aqui e acolá em algumas modalidades, dependendo se elas tiverem fôlego para promover grandes competições e atrair público de forma presencial.
O fato é que o legado de formação de público ao esporte pós-Jogos vai depender de algo que nunca tivemos: organização e planejamento.