Neymar foi um craque no primeiro tempo do jogo contra a Alemanha, principalmente quando marcou um belo gol de falta. Na segunda etapa, já não foi tão decisivo, mostrando uma velha dificuldade em atuar pela seleção brasileira contra equipes experientes e de forte marcação.
Na prorrogação Neymar estava exausto e quase não correu. Nos pênaltis, na última cobrança do adversário, o goleiro acreano Weverton defendeu o chute da equipe alemã. Neymar pegou a bola e colocou lá dentro, dando finalmente um ouro olímpico ao Brasil.
Entre defender um pênalti e fazer um gol de penalidade máxima, não precisa perguntar nem a uma criança o que é mais difícil fazer.
Depois do gol de pênalti Neymar se estatela no chão e chora solitário, exatamente como fez quando o Barcelona conquistou a Liga dos campeões no ano passado. O goleiro Weverton “rouba” a bola e depois abraça Neymar – fato incomum, pois, em geral, nesse tipo de disputa em que o goleiro “vence”, o primeiro a ser abraçado é o arqueiro, pela imensa desvantagem que tem.
Prossegue a comemoração e, de repente, Neymar bate-boca com um torcedor na arquibancada, em um estádio com mais de 70 mil pessoas que viveram tensões ao extremo calibradas a base de cerveja.
Surgem as entrevistas, Neymar mostra emoção e fala de luta. No encerramento, diz que “vão ter que me engolir”, relembrando as palavras de Zagallo, depois de receber muitas críticas e, no fim, ganhar a Copa América de 1997.
Este discurso à televisão foi bem diferente em relação ao da jogadora Marta no dia anterior, após perder o bronze, implorando por apoio ao futebol feminino – e ela nem precisa pessoalmente disso, pois já foi cinco vezes eleita a melhor jogadora do mundo, diferente do ex-santista que não ganhou nenhuma vez a láurea.
Esse é um pequeno filme do que se passou com Neymar no penúltimo dia do Rio 2016. Mas foi nesse espaço de tempo que o jogador perdeu a grande chance de fazer a seleção se reconciliar com o entristecido torcedor brasileiro, embora no primeiro momento, embalado pelo calor da emoção, pode ter parecido que isso ocorreu. Mas a realidade foi outra já no dia seguinte: as redes sociais se encheram de críticas à postura do jogador fora de campo.
A mídia preferiu se calar, com raras exceções. Como o futebol brasileiro depende muito do sucesso de Neymar, não é bom queimar a fonte. Afinal, craque no futebol brasileiro está escasso. Além do mais, o Brasil precisa se classificar para a Copa do Mundo de 2018.
E o futebol nosso está assim mesmo, o boleiro já não se importa tanto com o torcedor, como no passado – para quem circula no meio futebolístico, já são conhecidas as críticas de craques aposentados aos jogadores de hoje, que têm dificuldades em lidar com cidadão comum.
O craque não entrou na seleção da Olimpíada por que tinha menos de 23 anos. Ele foi um dos três chamados acima da idade, como é permitido no regulamento do torneio olímpico. Portanto, era referência de maturidade e experiência, além da conhecida técnica.
Neymar é um dos maiores jogadores do mundo, mas lhe falta grandeza e generosidade para ser completo.