Não sou muito de receber presentes. Pra falar a verdade, gosto mais de presentear do que de ser presenteado. Recebo de bom grado, mas esse receber me deixa meio sem graça. Eu tenho a impressão que não consigo expressar muito bem o meu agradecimento à pessoa que me presenteia.
Já presentear, aí é outra coisa. Adoro ver o brilho nos olhos e a cara de satisfação da criatura que recebe o meu presente. Claro que tanto presentear como receber um presente é uma espécie de arte, requer um cuidado danado. É preciso escolher o presente com bastante perspicácia.
Esse preâmbulo aí de cima eu julguei necessário para contar que no meio dessa semana que acaba de passar eu recebi, via Correios, um bem intencionado e bem-vindo presente de aniversário. Justamente uma camisa de time de futebol com o número dez às costas. Vejam só: o número dez!
O número dez exerce uma espécie de fascínio em todos os brasileiros que curtem futebol. A mística começou com Pelé. Depois do maior jogador de todos os tempos, vestir a camisa dez significa arcar com uma responsabilidade enorme. Todos esperam tudo do sujeito que veste a dez!
Aliás, não foi somente Pelé que vestiu a camisa dez com tanto brilho. A história do futebol brasileiro é pródiga de virtuoses que usaram esse número. Casos de Zico, Ademir da Guia, Rivelino, Dirceu Lopes, Raí, Neto, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho, Kaká… Craques a perder de vista!
Esses caras todos que eu citei no parágrafo anterior eram o show em pessoa. Íntimos da bola, eles costumavam deixar os zagueiros enlouquecidos e os torcedores em estado de êxtase. Com igual precisão esses camisas dez aí de cima tanto faziam gols quanto armavam o jogo!
Quando o Zico se preparava para cobrar uma falta perto da área, todo mundo sabia que era certo a bola beijar as redes. E o Ademir da Guia jogava como quem desfilava numa passarela, com a bola grudada no pé direito. Zico e Ademir só tiveram um defeito: não jogaram no Fluminense.
Já eu, nos meus tempos de infantil do Independência e juvenil do Rio Branco, nos primeiros anos da década de 1970, jamais tive a ousadia de pleitear o uso da camisa dez. Como volante, na maioria das vezes usei a número cinco. Uma vez ou outra, quando joguei de armador, usei a oito.
Eis que agora, ao completar o meu sexagésimo aniversário, o afilhado Manoel Façanha me escala com a dez. A camisa dez do Andirá, que um dia pertenceu ao ótimo Hélio Fiesca, meu conterrâneo de Brasiléia. Não sei se vou dar conta do recado. Mas vou me esforçar, viu, Façanha?