Um dos maiores laterais do mundo e o melhor que a seleção brasileira já teve, segundo relatos da maioria que o viu jogar, presenciei a vida de Carlos Alberto Torres, morto no último dia 25, apenas no papel de observador de futebol. E nesse campo ele teve posições curiosas que valem boas reflexões.
Uma delas diz respeito ao fato de defender aposentadoria do governo para os jogadores campeões do mundo. Seu companheiro da Copa de 70, Tostão, criticou a medida por considerar descabida. Por conta disso, Carlos Alberto o xingou de filho da p… em uma entrevista.
O problema é que o capitão do tricampeonato foi abrir o verbo justamente com um dos poucos ex-atletas de bom senso na mídia. Poderia ter respondido também com bom senso que a ocasião exigia, a um craque tão fera quanto ele dentro de campo. Além do mais, a questão da aposentadoria é realmente polêmica, em meio a tantos ex-jogadores de futebol brasileiro desconhecidos, que nunca ganharam um título sequer, e hoje passam fome.
Por outro lado, Carlos Alberto Torres foi coerente quando chamou Pelé de “hipócrita”, por recusar o convite de sua despedida de futebol para participar de um filme. Quem assistiu o Rei do futebol jogar ao lado de Carlos Alberto no Santos, na seleção e no New York Cosmos, afirma que o lateral foi um dos atletas responsáveis pelo sucesso de Pelé.
Mais recentemente, Carlos Alberto bateu no Bom Senso FC, grupo criado pelos principais jogadores brasileiros. Ele considerava exagero à reclamação de que havia muitas partidas por ano no futebol brasileiro. O ex-capitão achava que o problema era mais de logística, com longos deslocamentos dos times, e isso deveria ser equacionado.
Neste ponto Carlos Alberto tem razão. O Brasil é ainda muito ruim nos serviços de transporte entre estados, com raras exceções. Isso é um problema em uma competição nacional. Ele ainda falava que jogador gosta de atuar, e que atualmente um clube no País tem quase o mesmo número de partidas por ano de uma equipe na Europa.
Após a fatídica derrota de 7 a 1 para a Alemanha na última Copa, Carlos Alberto foi um dos pouco que preservou a seleção, dizendo a necessidade de não achincalharem o Brasil. O ex-lateral, porém, não se furtava em criticar os jogadores, dizendo que muitos faziam pouco caso em atuar pela seleção.
Essa foi outra posição de valor dita por ele em seus comentários. Não é porque levou uma fragorosa goleada, que a história do futebol brasileiro deve ser a partir de agora humilhada pelos críticos.
Ele, que teve em campo e sofreu também derrotas, sabe mais do que muitos o peso da camisa amarela e como os atletas têm relevância em preservar isso. Mas faz tempo, de fato, Carlos Alberto, que o jogador da seleção não dá tanta importância assim à seleção.
Como ele afirmava, a maioria faz sucesso nos clubes que joga no exterior antes mesmo de chegar ou despontar na seleção, o que torna atuar pelo Brasil algo menos importante do que a décadas atrás.
É por isso que hoje sentimos tanta falta de jogadores como Carlos Alberto. E será assim ainda por algum tempo, por certo.