O Andirá e a ditadura militar, coincidentemente (ou não), nasceram no mesmo ano: 1964. A ditadura veio ao mundo no final de março, depois de expulsar do poder o presidente João Goulart, no Rio de Janeiro. Já o Andirá, este nasceu no primeiro dia de novembro, num seringal acreano.
Provavelmente o ano de nascimento de um não tenha nada mesmo a ver com a vinda à luz do outro. O que é certo é que a segunda encerrou seu ciclo em meados da década de 1980, enquanto que o primeiro continua por aí, às vezes meio trôpego, mas encarando os desafios de cabeça erguida.
O elemento motivador dos militares para a conquista da república, segundo os compêndios de história, foi a paranoia do “perigo vermelho”. O mundo se dividia em dois bandos: socialistas e capitalistas. E era necessário usar de todos os recursos para não deixar um deles prevalecer.
Já para a criação do Andirá, embora os compêndios históricos não relatem nada, o que se sabe é que falou alto a paixão pelo futebol da família dos Dantas, que contava com figuras importantes da sociedade regional, abrangendo de seringalistas a empresários, e até um professor/governador.
Mas as paralelas entre um fato e outro terminam por aí. Pelo menos é o que eu acho. Escavando-se nas ruínas da memória eventualmente talvez até se possa descobrir alguma coisa mais a respeito. O certo, porém, que é o que interessa para o ponto mestre destas linhas, é a longevidade do Andirá.
Nesse sentido, convém ressaltar que dos times que hoje disputam a primeira divisão do futebol acreano, o Andirá, com os seus 52 anos recém-completados, é o terceiro mais antigo. Perdendo apenas para o Rio Branco e para o Atlético Acreano. Aos trancos e barrancos, mas pra lá de ativo!
Levando-se em conta que os membros da família fundadora do Andirá já partiram todos para os espaços etéreos, é possível dizer que o time só continua a existir por alguma espécie de milagre. O Andirá, eu diria, é só algumas camisas e o esforço de alguns desportistas abnegados.
Mas, apesar de todas as adversidades, 52 anos depois, o Andirá não recua, não teme e não entrega os pontos. Já mudou até a cor da camisa. Mesmo sendo morcego, tornou-se verde. Pode até cair, de vez em quando, para a segunda divisão, mas no ano seguinte luta de novo para ser elite.
Pois então é isso. Vida longa ao Andirá. Que o seu exemplo de sobrevivência se estenda para outros clubes acreanos de tradição que se ausentaram dos gramados, como é o caso de Juventus e Independência. Esse morcego pode até perder os dentes, mas jamais vai deixar de voar!