Gosto de tomar o café da manhã na rua. Pode ser em qualquer lugar, desde uma birosca bem simples até uma daquelas lanchonetes onde a variedade da oferta é tamanha que chega a diminuir o apetite da gente. Mas o certo é que me apraz ver as pessoas em volta “quebrando o [seu] jejum”.
Nessas ocasiões eu costumo ficar de ouvido ligado no que se fala nas mesas próximas. É uma bisbilhotice minha, eu sei. Uma intromissão na vida alheia. Certamente pecado condenado pelo total das “santas” madres igrejas. Mas o que fazer? Mania a gente não explica: curte-se (ou cura-se)!
Pois numa dessas de bisbilhotar o que se diz na mesa próxima logo de manhãzinha, eu ouvi, no dia seguinte à vitória da seleção brasileira de futebol contra o Peru, uma profusão de ideias bem peculiares no que diz respeito ao atual estágio e sobre as possibilidades futuras do time amarelo.
Um torcedor transpirava otimismo. No dizer dele, a seleção atual representa o suprassumo do futebol brasileiro de todos os tempos. “Joga por música”, ele garantia. E afirmava que o atual time é “melhor do que aquele de 1970. A defesa daquele era ruim. A zaga deste é quase perfeita”.
O segundo torcedor ouvia atentamente, mas não parecia concordar plenamente com tudo que o primeiro dizia. Este, porém, falava quase compulsivamente. E garantia que até Pelé teria dificuldade para arranjar uma vaguinha no time atual. “No lugar de quem o rei jogaria?”, indagava.
“São seis vitórias em seis jogos, meu irmão. Não tem adversário. Tanto faz jogar em casa como fora. O Messi, melhor do mundo e coisa e tal, não viu a cor da bola. A Argentina foi atropelada. O Peru, que deu um sinal de endurecer, foi amassado. Não tem pra ninguém”, garantiu o sujeito.
“E digo mais”, continuou empolgado, “se a Copa do Mundo fosse hoje, a gente ganhava com um pé nas costas. O problema é que ainda faltam dois anos. E daqui pra lá os russos podem aprontar alguma sacanagem. Tipo o que fizeram com o Ronaldo, na França. Tu te lembras?”
“Pra falar a verdade”, falou mais empolgado ainda, “eu sou daqueles que nunca desistiram de acreditar que o melhor futebol do mundo sempre foi o nosso. O problema era o técnico. Naquele sete a um, foi o Felipão que fez a merda. E depois, com o Dunga… Bem, aí nem técnico a gente tinha”.
Foi a última coisa que eu ouvi da conversa entre os dois vizinhos de mesa naquela manhã. Paguei a conta e fui embora. Fiquei impressionado com o otimismo do torcedor. Tanto que voltei nos dias seguintes a tomar café no mesmo lugar e hora. Mas não consegui encontrá-los novamente.