Ventania

Fiz uma analogia na crônica passada entre o insucesso dos times do Norte do país na Copinha com os ventos originários dessa região brasileira. De acordo com o meu argumento, levando-se em conta que talentos existem em qualquer lugar, a culpa seria da pouca força desses tais ventos.

Como os ventos do Norte, de acordo com as teorias do clima de modo geral, não tem força suficiente para mover um único moinho, não sendo, portanto, capaz de gerar alguma energia, então aí estaria a explicação para o fato de que o futebol regional dificilmente se destaque.

Escrevi o tal texto na manhã de sexta-feira, num momento em que nenhuma equipe do Norte havia ainda conseguido vencer na versão 2017 da Copinha. Algumas, inclusive, já haviam levado humilhantes goleadas. Caso do Genus (RO), por exemplo, que já havia perdido duas por 6 a 0.

Aparentemente, o roteiro da total eliminação seria o mesmo de outros anos. Muita luta dos meninos aspirantes a craques, muito suor, algumas lágrimas, mas, no geral, tudo indicava que a participação dos times do Norte acabaria outra vez na primeira fase. Só pela experiência!

Eis que, entretanto, uma ventania oriunda de uma extremidade da Amazônia Sul-Ocidental tratou de fazer mover uma das pás do moinho. E então, por força desse sopro mais forte, o acreano Rio Branco, Estrelão de tantas glórias, passou de fase, goleando uma equipe do Estado do Ceará.

Se existe explicação lógica para esse súbito furor de um time do Norte? Teria sido a competência dos dirigentes acreanos de ter juntado garotos bons de bola num mesmo momento e num mesmo lugar? Seria simplesmente o nascimento espontâneo de uma geração talentosa? Hein?

Na busca de tentar compreender o que aconteceu, tratei de despachar pombos-correios, enviar e-mails e disparar telefonemas. Ao todo, mandei umas trinta mensagens aos meus interlocutores. Só um deles me respondeu. Justamente o advogado e preparador físico xapuriense Joraí Salim Pinheiro.

De acordo com a digníssima autoridade, o que mais contribuiu para o triunfo do Rio Branco foi o nome do time adversário: Floresta. “Ora, professor, depois de mais de cem anos de história fazendo carreira no mato, não seria agora que a gente iria se perder numa floresta”, disse-me o gajo.

Não sei se o Joraí tem plena razão. Que ele conhece das coisas, ninguém pode negar. Mas, nesse caso do sucesso do futebol acreano na Copinha, pode ter sido isso ou aquilo. O certo é que o Estrelão está na segunda fase. É o único time do Norte sobrevivente. A brisa virou ventania!