Foram dias a fio de tristeza e dor mostradas pela televisão – e até câmera escondida foi parar na área reservada aos familiares durante o velório. A rede de solidariedade ao time parecia não ter fim.
Mas as semanas passaram e os holofotes de um jornalismo que adora fazer o telespectador cair em prantos apagaram-se, e a realidade veio à tona na forma que o próprio ser humano está acostumado a conviver – mas que finge não existir quando vem embalada por imagens chocantes e repórteres emotivos.
A última foi de que as mulheres dos jogadores do Chapecoense mortos no acidente aéreo andam muito preocupadas com o futuro delas e dos filhos órfãos. Elas cobram apoio financeiro e premiações a que seus parceiros tinham direito. Até aqui foi pago o seguro, afirma o clube. Muitas citam ajuda que viria de doações – o Chapecoense explica que ele ainda está recebendo esse dinheiro.
Aliás, se existe um grande problema entre as mulheres envolvidas diretamente na tragédia, este é da única sobrevivente do sexo feminino da queda do avião. Há poucos dias, a comissária do voo disse que não tem como pagar a conta de 13 mil dólares cobrada pelo hospital de Medellín onde foi socorrida. Há uma ação do ministério público para pressionar a seguradora da companhia aérea a desembolsar o que deve.
Já com relação aos atletas cedidos pelos clubes ao Chapecoense, como forma de reerguê-lo e ajudá-lo a montar um time para as competições de 2017, há reclamação dos dois lados: quem cedeu afirma que a agremiação de Chapecó ignorou os atletas; já a Chapecoense reclama da qualidade dos jogadores ofertados.
Sobre o acidente em si, que vitimou 71 pessoas e deixou apenas seis sobreviventes, no dia 29 de novembro passado, o jogo de empurra dos responsáveis segue a todo vapor e envolvem autoridades colombianas e bolivianas. E há até quem culpe a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), promotora do torneio que a Chapecoense disputaria a final se a tragédia não lhe aparecesse no caminho.
O tempo irá resolver alguns dessas questões. Outras, por certo, não encontrarão consensos. Existirão compensações e injustiças. Marcas ficarão para sempre na mente de muitas pessoas. Viver é se deparar com isso, ainda que de forma indesejada.
O fato é que as lágrimas não secam assim tão fácil só por que o assunto saiu da pauta da televisão. A realidade é muito mais profunda do que as superficiais e repetitivas manifestações de sentimento expostas numa tela de TV.