Projeto de legado do Rio 2016 era para inglês ver

Legado de qualquer edificação tem uma questão principal a definir quando ele precisa ser contemplado: faz-se o acerto muito antes de se construir. E isso no Rio 2016 foi falho.

Ele pode ter sido relatado no projeto apresentado ao Comitê Olímpico Internacional, organizador dos Jogos, na época da escolha da cidade. Mas entrou em outra condição quando precisou ser detalhado, com atualização de custos e tudo mais, no início do desenvolvimento dos projetos.

Projeção de legado exige densos estudos com análises de longo prazo. Imagina um estádio, uma arena esportiva, um centro olímpico, que são estruturas grandes.

Constrói-se ou se reforma esses equipamentos esportivos atendendo as exigências do COI, no caso da Olimpíada. Em geral, eles ficam superdimensionados – fui a 16 eventos esportivos no Rio 2016 e foram dois ou três que encontrei com casa cheia, só porque o Brasil estava atuando. Em suma, é demais o que se exige para organizar o evento.

Isso já cria uma dificuldade a mais por que legado nunca é algo muito grande a permanecer, e a solução já terá que ser aguda. O Estádio Olímpico de Londres 2012, após os Jogos, foi diminuído de capacidade para menos da metade. Apesar de todos os estudos antecipados, ali deu quase problema porque até depois da Olimpíada não havia definição de quem usaria por uma questão de custo. O entrave maior era a grandeza do equipamento, mesmo com a redução de assentos. O Ninho de Pássaro, utilizado nos Jogos de Pequim 2008, manteve a capacidade e virou elefante branco.

Então, a história mostra como se tornou complexa a situação e quanto mais imponente a edificação, mas complicada fica dar um fim, mesmo com todas as providências. Transposto para o Brasil, onde planejamento não é algo bem cumprido por aqui, não poderia dar em outro resultado ao que vemos acontecer no Parque Olímpico do Rio 2016.

É claro que a crise no País e, particularmente, no Rio de Janeiro criam mais dificuldades do governo dar cabo ao prometido antes dos Jogos. Parceiros privados não querem se sujar no galinheiro – ou então pagam a preço de banana, sem contrapartida, o que nos dois casos prejudica o Estado.

Porém, faltou controle, acompanhamento e ajustes no projeto de legado do Rio 2016. É preciso que as autoridades reconheçam isso e elaborarem rapidamente novas soluções aos equipamentos esportivos da cidade, e não o que foi feito até agora, para que não virem ruínas.