O ex-craque Elísio aos 67 anos. Foto/Francisco Dandão.

Elísio: O ponteiro que marcou o primeiro gol da história do Atlético Clube Juventus

POR FRANCISCO DANDÃO

Dono de uma memória prodigiosa, o ex-jogador Elísio Manoel Pinheiro Mansour lembra, aos 67 anos (ele nasceu no dia 27 de março de 1949), com riqueza de detalhes, episódios inúmeros da sua vida como desportista, seja com fundador do Juventus, jogador de futebol (fixou-se na ponta esquerda, mas jogava em todas as posições do ataque) e dirigente.

Rio Branco – 1965. Em pé, da esquerda para a direita: Campos Pereira (técnico), Dinaldo, Zé Augusto, Rômulo, Dadá, Stélio e Romeu. Agachados: Rui Macaco, Klerman, Ernani Petroleiro, Babá e Elísio. Foto/Acervo Francisco Dandão

Lembra, por exemplo, que foi dele o primeiro gol da história do Juventus, na vitória por oito a zero sobre um time chamado Botafogo. Fato que aconteceu, disse Elísio, “no dia 13 de março de 1966”. E ele lembra até a escalação do time: Zé Augusto; Carlos Mendes, Pedro Louro, Júlio D’Anzicourt e Estevão: Carreon e Romeu; Elísio, Airton, Touca e Ernani.

Juventus – 1970. Em pé, da esquerda para a direita: Filogônio, Deca, Milton, Vute Vilanova, Antônio Maria e Carlos Mendes. Agachados: Nilson, Eliésio, Nemetala, Nelcirene e Elísio. Foto/Acervo Elísio Mansour.

Antes da fundação do Juventus, Elísio jogou no Independência, em 1964, e no Rio Branco, em 1965. Mas depois foram oito anos, de 1966 a 1973, no Clube da Águia. “Eu era reserva no juvenil do Independência, dirigido pelo Olavo Pontes. Daí fui para o time principal do Rio Branco, a convite do Campos Pereira. Depois disso, só deu Juventus”, falou Elísio.

Os irmãos Elísio, Elias (presidente) e Eliézio com a faixa de campeões estaduais de 1969. Foto/Acervo Elísio Mansour

Um incidente de percurso fez com que Elísio e a bola se divorciassem muito cedo. Aos 23 anos, ele estourou o joelho direito, jogando as partidas finais do campeonato de estadual de 1972, contra o Independência. Mesmo assim, ainda conseguiu jogar até o final de 1973. “Todas as vezes que eu jogava o joelho inchava. Aí desisti”, disse ele.

A quarta partida e o futebol de salão

Um dos episódios que Elísio gosta de lembrar refere-se à decisão do campeonato de 1972, contra o Independência. O campeonato foi parar no “tapetão”. É que, ao final das três partidas decisivas, nenhuma das equipes conseguiu vencer a outra. E então, como o regulamento não previa critérios para estabelecer o campeão, os dois clubes entendiam que o título era deles.

“Como o regulamento era omisso, e prevendo que poderia haver um terceiro empate, os dirigentes dos dois clubes assinaram um documento dizendo que se a situação ocorresse seria jogada uma nova partida, com prorrogação e pênaltis. Mas depois de mais um empate, o Independência desistiu de jogar. Aí o jeito foi apelar para os tribunais”, afirmou Elísio.

“A questão se arrastou por um ano nos tribunais. Até que no final de 1973 veio a ordem para ser jogada a quarta partida. Ou então, uma solução alternativa, com os dois times dividindo o título. O Tinoco [técnico] não gostou dessa ideia. Ele achava que ganharíamos. Fomos para o jogo e empatamos de novo. Aí, nos pênaltis, nós perdemos”, completou Elísio.

Seleção da FAD – 1971. Em pé, da esquerda para a direita: Antônio Maria, Chico Alab, Palheta, Deca e Zé Augusto. Agachados: Nostradamus, Bico-Bico, Nemetala, Euzébio, Jangito e Elísio. Foto/Acervo Elísio Mansour.
Ataque do Juventus em 1970. Da esquerda para a direita: Elísio, Nemetala, Eliézio e Nilson. Foto/Acervo Elísio Mansour.
Juventus – 1972. Em pé, da esquerda para a direita: Deca, Mustafa,, Pope, Hermínio, Pingo e Antônio Maria. Agachados: Edson Carneiro, Carlitinho, Elísio, Nilson e Carlos Mendes. Foto/Acervo Elísio Mansour.

Fora toda a movimentação nos gramados, Elísio disse que também jogou muito futebol de salão. “Nós criamos um time que dificilmente perdia. Muita gente boa, como o Dadão, o Carlos César, o Curu e o Assis, jogou no nosso time de salão. Mas a formação original era o Simão, no gol, o Mustafa, o meu irmão Eliézio, eu e o Nilsinho”, lembrou Elísio sorrindo.

“Os Bárbaros” e a experiência como dirigente

Paralelamente à carreira de jogador de futebol, Elísio juntou-se com o irmão Dadinho e os amigos Quininha, Tufic e Edu, todos nascidos em Brasiléia, e fundaram um conjunto musical batizado de “Os Bárbaros”. Elísio tocava guitarra e teclados. O conjunto fez sucesso na região Norte, exibindo-se várias vezes nos estados de Rondônia, Amazonas e Pará.

O dia em que Os Bárbaros tocaram na Catedral de Nossa Senhora de Nazaré. Da esquerda para a direita: Dadinho, Tufic, Elísio, Dom Giocondo (bispo), Edu e Maury. Foto/Acervo Elísio Mansour.

Segundo Elísio, o conjunto musical e o Juventus faziam parte da mesma estrutura. “Naquele tempo, quase todo jovem tinha dentro de si o desejo de ser músico, imitar grupos famosos. Nós éramos fãs dos Beatles, mas nos espelhávamos também em conjuntos brasileiros, como Os Incríveis. O clube e o conjunto, então, se apoiavam mutuamente”, explicou.
“O curioso”, no dizer do ex-craque de futebol e músico, “é que eu tocava de forma intuitiva e só fui estudar música anos depois de o conjunto acabar. Os Bárbaros acabaram em 1981 e eu frequentei um conservatório no interior de São Paulo entre os anos de 1999 e 2005, me formando em violão clássico, teclado clássico e teoria musical. As tais ironias da vida”.

Por último, cabe ressaltar que Elísio ainda teve uma passagem como dirigente. Ele presidiu o Juventus no biênio 1995/1996, legando o segundo bicampeonato do clube no futebol profissional (o primeiro foi em 1989/1990). “Eu jamais imaginei ser presidente do Juventus, mas acabei cedendo ao apelo de amigos e aí deu certo”, finalizou o “craque bárbaro”.