Por tudo o que produziu nos campos do planeta, entre os anos das décadas de 1950 e 1970, Pelé, com a maior justiça do mundo, é considerado o maior futebolista de todos os tempos. Jamais houve e jamais haverá alguém com tanta capacidade para esse jogo praticado com os pés.
Por conta de toda essa capacidade, ele marcou mais de mil e duzentos gols, atuando pelo time brasileiro do Santos, pela seleção brasileira e pelo norte-americano Cosmos, de Nova York. E foram gols das mais diversas formas: driblando, tabelando, de cabeça, chutando etc. e tal!
Mas teve um gol que Pelé não conseguiu fazer. Justamente um gol chutando do meio do campo. E não se diga que foi por falta de tentativa. Ele bem que tentou. A tentativa mais famosa foi aquela na Copa de 1970, no México, contra a então Tchecoslováquia, no grande goleiro Ivo Viktor.
Foi, de fato, um pecado a bola chutada por Pelé do meio do campo não ter entrado. Não que o “erro” tenha causado algum efeito nefasto no placar do jogo. O Brasil meteu quatro a um nos tchecos. Mas é que “se” a bola entra, ali teria acontecido um daqueles gols dignos de placa no estádio.
Eu era um menino de treze anos em junho de 1970 e ouvi o jogo do Brasil contra os tchecos (assim como todos os outros) pelo rádio, que no Acre, onde eu morava à época, não existia televisão. Só uns dois meses depois é que eu vi o lance do gol “perdido” por Pelé numa tela de cinema.
Repetido em “slow motion” (câmera lenta para os íntimos) na telona do Cine Rio Branco, o lance causava um arrepio no corpo de todos os que o assistiam… Todos os espectadores repetiam aquele “uuuuuu” característico dos perigos de gol. A esperança é que a bola entraria na próxima repetição!
O raciocínio e a visão de jogo do gênio Pelé era algo que fugia às explicações racionais. Até hoje não se sabe como ele via tanta coisa e executava os movimentos mais improváveis com absoluta naturalidade. Aquele chute do meio do campo comprovava todo o gênio do tal “negão”.
Mas eu só usei esse fato como tema da minha crônica de hoje porque ultimamente muita gente anda fazendo “o gol que Pelé não fez”, chutando do meio do campo. Só nesse começo de ano já foram três, marcados por Gustavo Scarpa (Fluzão), Lucas Paquetá (Flamengo) e Dudu (Palmeiras).
Nenhum desses sujeitos, é claro, sequer um dia se aproximará do que Pelé representou como futebolista. Nem se trata de compará-los. Isso seria de uma heresia acima de qualquer possibilidade de penitência. Mas os gols que eles marcaram já podem entrar em qualquer antologia. Ora se podem!