O brasileiro é um povo pra lá de supersticioso. Mesmo a gente vivendo em pleno século XXI, com a tecnologia presente na vida de todo mundo, era das máquinas etc. e tal, por via das dúvidas, é melhor se benzer antes de sair de casa e fazer uma oração para o santo protetor. Bem melhor.
No futebol, então, nem se fale. Vale tudo. Reza de padre velho, mandinga na encruzilhada, missa durante sete dias e sete noites, velas ardentes durante uma quinzena, tripa de sapo enterrada no campo do adversário, amarração de canelas feita com cipó de fogo e o escambau…
Tem treinador que não muda em hipótese alguma a camisa com a qual se veste para dirigir a sua equipe à beira do gramado. Entra ano e sai ano e o camarada ali, com a mesmíssima camisa dos diversos anos anteriores. A mulher em casa é instruída para lavar com todo o cuidado.
Salvo engano, o mestre Cuca, do Palmeiras é um dos titulares desse time dos que vestem a mesma camisa sempre, em dia de jogo. Mas, além disso, existem aqueles treinadores que passam o jogo segurando um rosário e olhando muito mais para o céu do que para o bailado da bola no gramado.
Pois muito bem. O motivo dessa longa introdução nesta crônica de hoje é o fato de que eu conversei durante uma tarde, mais precisamente na quinta-feira passada, com, talvez, o mais supersticioso dos técnicos em atividade no futebol acreano. Justamente o grande mago Marcello Altino.
De acordo com o dito cujo, ele é uma pessoa extremamente espiritualizada, chegada às coisas do além, daquelas criaturas que transita em todos os credos e bate na madeira três vezes até antes de tomar banho… Estranhei isso. Aí ele me disse que nunca se sabe se a água foi batizada…
São tantos os rituais do Marcello (“com dois ‘eles’, por conta da vibração das consoantes junto às estrelas de Saturno”, explicou-me o veterano treinador) Altino que se o jogo estiver marcado para às 17 horas, ele chega no vestiário às seis da manhã: “É preciso muito cuidado”, disse.
“Cada patuá, professor, inclusive um que eu trouxe da minha passagem na direção de uma equipe peruana e que, reza a lenda, pertenceu a um xamã do povo inca, tem que estar exatamente no seu lugar. Só assim, as boas vibrações convergem para a minha pessoa”, garantiu-me o mago.
A mais insólita das superstições do mago, porém, diz respeito ao fato de que ele usa sempre a mesma cueca em todos os jogos. Isso desde 1997, quando da conquista da Copa Norte pelo Estrelão, em Belém. Ressalte-se que a tal peça até hoje não viu água. “Se lavar perde a magia”, disse ele.