Tudo leva a crer que o Atlético Acreano, glorioso Galo do segundo distrito de Rio Branco, na ativa ininterruptamente desde o início da década de 1950, tomou gosto pelos títulos, pelo grito de vitória e sangue azul vindo das arquibancadas e, suprema fidalguia, pelo sabor do champanhe na taça.
Afinal de contas, depois de 24 anos sem conquistar o título de campeão acreano, o Atlético criou vergonha na cara, montou boas equipes, valorizou a prata da casa, entregou o comando técnico nas mãos de um sujeito estudioso e apaixonado pelo futebol e partiu para um bicampeonato.
Agora são três títulos de campeão estadual do Acre na era do profissionalismo: 1991, 2016 e 2017. Poucos títulos. Ainda bem longe do maior campeão desse período, iniciado em 1989, justamente o Rio Branco, que venceu 15 vezes. Mas, de qualquer forma, parece que o Galo acordou.
Eu, que desde 2015 amarro o meu burro na sombra dos coqueiros do litoral cearense, tive o prazer de estar no Acre para assistir os dois jogos finais do campeonato de 2017. Digo “tive o prazer” porque eu gostei muito do que vi em campo, com duas equipes extremamente dispostas a vencer.
E, se me permitem uma humilde opinião, penso que o título ficou em ótimas mãos. Mesmo no primeiro jogo, quando o Rio Branco venceu com um golaço de bicicleta do atacante Romário, nos acréscimos, eu entendi (e disse isso para alguns chegados), que o Atlético não mereceu o tal revés.
É claro que não adianta nada jogar melhor e sair do campo de jogo derrotado. Infelizmente (ou felizmente, sei lá eu), são os números que comandam a vida. Um time pode ser melhor do que o outro o tempo inteiro, mas se não marcar gols e, ao contrário, levá-los, vai perder mesmo.
Na segunda partida, a vantagem do Rio Branco, dada a vitória anterior, foi aumentada ainda no primeiro tempo. O Atlético foi para o intervalo com um prejuízo enorme. Parecia que seria uma luta vã aquela que se configurava para o segundo tempo. O Galo, porém, não se entregou!
E então, deu no que deu: Atlético 3 a 1. O time azul foi pra cima do alvirrubro avassalador. Era tudo ou nada. Lona ou seis palitos. Aposta cheia. Com o setor defensivo apresentando os mesmos defeitos de outras jornadas, o Rio Branco quedou-se perplexo ante a histórica e épica virada.
O mais irreal, porém, aconteceu quando saí para pegar o meu carro para voltar pra casa. Num canto pouco iluminado do estacionamento vi um grupo de torcedores vibrando: Jaú, Fernando Diógenes, Zelito, Euzébio e Boá. Mas como assim, eles não morreram? Não sei. Só sei que eram eles!