Garrincha, o chamado “anjo das pernas tortas” (alguns preferiam dizer “demônio”, em vez de “anjo”), de acordo com a lenda, costumava dizer que a Copa do Mundo era uma competição muito “mixuruca”. Na opinião dele, segundo essa versão, qualquer campeonato que se prezasse deveria ter turno e returno. O que não era o caso, evidentemente, da Copa.
A história me vem à cabeça por conta do segundo turno da eleição presidencial do Brasil, marcada para o próximo domingo. Se Garrincha fosse vivo, sendo verdadeiro o que se diz dele sobre a Copa, certamente ficaria feliz. Turno e returno. O derrotado de domingo não poderá reclamar, uma vez que teve duas chances antes de erguer a taça sobre a cabeça.
Pra mim, Garrincha tinha razão. Uma derrota, principalmente se for pelo escore mínimo, tanto faz se no futebol ou nas urnas, às vezes pode ser fruto do acaso, um acidente de percurso, um cochilo etc. e tal. Ao contrário, se o campeão vence nos dois turnos, aí a coisa me parece diferente. Vencer duas vezes, ou vencer na finalíssima, me parece muito mais justo.
Como toda finalíssima, a decisão de domingo se configura duríssima. Não dá pra ninguém dizer que vai (ou pode) ganhar de véspera. Um clássico! Se o confronto estivesse num teste da Loteria Esportiva, o jeito era marcar palpite triplo. Qualquer coisa que não fosse isso e o risco de perder a “bolada” seria pra lá de real. Cravar seco, never, nem pensar.
Claro, eu sei, eu sei. Se a gente encontrar um torcedor de azul (a cor do Cruzeiro, time coincidentemente de Minas Gerais), ele vai garantir que a parada já está no papo. Da mesma forma, se a gente encontrar um torcedor de vermelho (a cor, igualmente por coincidência, do gaúcho Internacional), ele vai dizer que a fatura está encerrada. Tudo fanfarronice. Apenas isso.
Por outro lado, embora Garrincha não tenha dito (digo eu agora), assim como na Copa do Mundo, o vencedor na eleição fica com o direito de ostentar o título por quatro anos. O Brasil só poderá devolver a pancada que levou dos alemães em 2018. Com Aécio e Dilma vai acontecer a mesmíssima coisa: ou ganha agora ou faz planos para a próxima vez.
Por isso, por terem consciência de que a próxima chance vai demorar a acontecer, é que estão todos (uns mais, outros menos) nervosos (ouvi dizer que os comprimidos de Lexotan sumiram das farmácias). O título vale a vida, tanto dos contendores quanto dos bandos que os apoiam (às vezes mais destes do que daqueles). Do pescoço pra baixo tudo é canela!
De qualquer forma, Cruzeiro ou Inter (azul ou vermelho), no domingo o país terá um novo campeão. Turno e returno, como Garrincha gostava. Muito “sarrafo” dos laterais em cima dos ponteiros. Uma ginga, um drible, o marcador rolando no chão, o gol aberto e o sorriso largo. Turno e returno para o Brasil viver um novo ciclo (ou seria o mesmo?)
Francisco Dandão