A chuva de cada dia

Li por aí um dia desses sobre uma proposta de paralisação do campeonato acreano por conta das chuvas torrenciais que caem em Rio Branco, capital do estado do Acre, tornando impraticável o campo de jogo, no caso o Florestão, o único que abriga os confrontos deste ano de 2022.

Li também que a maioria dos dirigentes de clubes rejeitou a proposta, por conta de que uma paralisação acarretaria na necessidade de manter os profissionais da bola mais tempo sob contrato. Uma despesa que os clubes, sempre na penúria, não poderiam arcar, pela inexistência de boas receitas.

Com respeito ao período chuvoso, não somente no Acre mas em toda a região Norte, não é segredo pra ninguém que essa é a época do ano de maior precipitação pluviométrica. Então, quando o céu desaba sob a cabeça dos jogadores acreanos, não creio que isso se constitua num fator inesperado.

Isso é bem antigo. Eu diria que desde o tempo em que se jogava com uma chuteira chamada Gaeta (dura como o diabo) e que a bola não era impermeável. A bola depois de molhada pesava uma tonelada e oferecia o risco real de arrancar o pescoço dos caras que ousavam dar uma cabeçada.

Todo mundo sabe que vai chover muito e todo mundo topa jogar o campeonato nessa época. Provavelmente não seja possível jogar a competição local em outros meses, por conta de restrições do calendário nacional, que abrange vários torneios organizados pela CBF. Não sei.

Na verdade, o que eu acho que pegou este ano foi a interdição do estádio Arena da Floresta, obrigando a que todas as partidas sejam realizadas no estádio da federação. Um estádio só não aguenta tanto pisoteio. Vão para o brejo ao mesmo tempo tanto a grama quanto os artistas e o espetáculo.

Dessa forma, levando em conta todas essas questões, a gente nunca poderá saber se o campeão do ano é o melhor time. É bem possível que o campeão seja apenas o que mais se adapte às condições atmosféricas. Aquele cujos atletas melhores aprenderam a dar “balões pra cima e pra frente”.

Se for assim, não creio que seja despropositado dizer que o futebol jogado no campeonato acreano voltou ao “tempo do tuba”. Explicando aos mais jovens que o “tempo do tuba” foi a época onde não havia esquema tático ou estratégia. A ordem era meter o bico para o lado onde o nariz apontasse.

Digo tudo isso mas confesso que esse é um problema de difícil solução. Em princípio só me ocorre um jeito de resolver essa parada: construir uma cobertura retrátil para o estádio. Impossível? Não, não é. Com um dinheirinho a mais, talvez da CBF, talvez de um sheik árabe, quem sabe?