Por solicitação e iniciativa do parceiro Manoel Façanha, tenho me dedicado nos últimos dias a realizar uma série de entrevistas com ex-jogadores do futebol acreano, para publicação no jornal Opinião. É uma tarefa agradável, principalmente pelos detalhes históricos dos personagens.
Tem muita coisa que vem à tona que a gente não teria como saber se o entrevistado não contasse. Detalhes da intimidade, dos bastidores, historinhas engraçadas, outras nem tanto, emergem das palavras dos entrevistados. E assim, a gente vai conhecendo melhor o mundo da bola.
A próxima matéria da série vai ter como personagem o ex-lateral (tanto direito como esquerdo) Tonho, que jogou no Fronteira (equipe de Plácido de Castro), no Amapá, no Rio Branco e no Independência, e que levantou troféus por esses times todos, inclusive um Copão da Amazônia.
Os torcedores que frequentaram o velho Estádio (Stadium)José de Melo, entre os anos de 1979 e 1988, conheceram bem o Tonho e a capacidade que ele tinha para marcar os adversários. E viram os bons duelos dele com os ponteiros da época. Casos, entre outros, do Paulinho e do Roberto Ferraz.
O Tonho era um lateral de tanta eficiência que mesmo jogando no Amapá foi convocado para a seleção acreana de juniores de 1981. Digo “mesmo no Amapá” porque o time era considerado do grupo dos pequenos da época e dificilmente alçava um jogador à categoria de “convocável”.
Até aqui, porém, tudo o que disse é do conhecimento de todos os que acompanharam o futebol da última década do amadorismo no Acre. O que poucos sabem é que o Tonho, aos 16 anos, quando jogava no Fronteira, foi oferecido ao Independência, mas o interlocutor exigiu dinheiro para levá-lo.
O fato aconteceu quando o Independência foi fazer um amistoso em Plácido de Castro. Tonho jogou muito naquele dia. E aí, ao fim do jogo, o irmão Juca, goleiro do Fronteira, perguntou para o Deca, zagueiro do Tricolor, se dava para levar o Tonho para realizar testes no time da capital.
Em princípio o Deca não quis responder, limitando-se a elogiar o garoto, falando da habilidade dele, do bom controle de bola etc. Só depois de alguma insistência do Juca é que o Deca disse: “Dá pra levar ele sim. É só botarem uma grana na mão do papai aqui. É só pagar que eu cuido dele”.
A conversa morreu ali. Se dependesse de pagar para fazer um teste, Tonho jamais sairia de Plácido de Castro. Mas aí entrou em ação o destino. Anos depois, mais encorpado, o “rei da pancadinha” (Tonho era conhecido assim, no interior) veio por méritos próprios brilhar o futebol da capital.