A espécie humana

Todo preconceito é nefasto. Preconceitos significam conceitos prévios, sem conhecimento de causa. E o efeito disso, pelo desconhecimento da causa, só pode levar a situações absurdas. Se o preconceito estiver relacionado à cor da pele, então, tudo isso é elevado a potências extremas.

A espécie humana é pródiga em incorporar preconceitos das mais variadas espécies. Os sujeitos crescem em meio a uma avalanche de crenças que lhes vão sendo passadas pela família e/ou pelo nicho social em que estão incrustrados. E tudo vai sendo indevidamente perpetuado, dia após dia.

A cor da pele, no meu entender, é um dos preconceitos mais odiosos. Os ignorantes de todos os matizes não conseguem compreender que a essência de um ser humano não está na pigmentação do corpo. Não é possível meter na cabeça oca deles essa ideia de igualdade, sentimento fraterno etc.

Entro nesse assunto pensando nessas manifestações bestialógicas dos torcedores espanhóis contra o jogador brasileiro Vini Júnior, do Real Madrid. Cada vez que entra em campo e exercita a sua elevada arte, Vini é alvo dos xingamentos dos torcedores (ou seriam marginais?) dos times adversários.

Gritos de macaco ecoam pelas arquibancadas dos mais variados estádios. Pela elevada capacidade de conduzir uma bola e desmoralizar os zagueiros que o enfrentam, Vinicius desperta a raiva e a intolerância dos mentecaptos. Para eles, um negro do terceiro mundo não pode ser tão bom.

Mas o pior de tudo, no meu entender, é a conivência das autoridades. Os caras agem como se tudo aquilo fosse normal e que se trata tão somente de inocentes provocações para desestabilizar a genialidade do brasileiro. Estão muito enganados. É a mais pura manifestação de ódio e recalque!

Existem na Europa dois tipos de preconceito com relação ao pessoal do Terceiro Mundo. Um deles é a própria origem da criatura. Eles acham que somos todos esfomeados que vamos lá para ocupar os seus lugares. O outro, a cor da pele, que se for negra faz com que sejamos considerados inferiores.

Eu, negro e brasileiro, vivi uma situação, determinada vez, em Paris (a Cidade Luz lá deles) que, embora sem maiores consequências, demonstrou a diferença de tratamento entre um branco do “primeiro mundo” e os outros. Foi num parque público, nas imediações do Jardim de Luxemburgo.

A situação foi a seguinte. Um adulto branco jogava bola com uma criança, num lugar gramado, sob as vistas dos policiais que ali transitavam. Ninguém os incomodava. Quando eu entrei no espaço, para fazer uma foto, logo um segurança correu para me dizer que era proibido pisar na grama!