A vida em reprise

A pandemia que ora assola o planetinha azul (ainda é dessa cor?) mudou os hábitos de todo mundo. Dar uma saidinha à rua só em caso de extrema necessidade. Praticamente só mesmo se a gente precisar abastecer a despensa ou comprar algum remédio desses da categoria do imprescindível.

Os supermercados e as farmácias substituíram as praias, as praças públicas, os shoppings, as salas de cinema, os teatros, os estádios, os restaurantes, os botecos… Enfim, uma porção de lugares que a gente costumava frequentar e onde todos tinham o hábito de jogar conversa fora.

Bater papo com os amigos, enquanto durarem esses tempos sombrios, só mesmo através dos aplicativos de conversa, sejam de voz ou na forma escrita. Menos mal que ainda existem os aplicativos. Sem esse canal de comunicação o confinamento e a distância seriam companhias insuportáveis.

Tudo anda tão mudado que até na televisão, que desde que foi ao ar pela primeira vez se constituiu numa máquina de garantir o entretenimento pela constante novidade, não passa mais nada de diferente. O dia todo o que se vê na TV são estatísticas do avanço do vírus. Fora isso, tudo é reprise.

Não tem mais novela nem futebol na televisão. Quer dizer, até tem sim, mas tudo repetido. Nada de novo no front. Melhor dizendo: nada de novo na tela. No front até que há uma novidade, na forma de um inimigo insidioso que pode estar à espreita em qualquer lugar. Vade retro, demônio!

Como não está tendo nem novela nem futebol novos, a gente assiste à televisão com um certo ar de nostalgia. E aí, emerge um grande problema: não existe o suspense sobre o que poderá acontecer. A gente vai assistindo e já sabe o que virá em seguida. Tudo é retrô. A vida estancou no dia anterior.

Eu, da minha parte, fico vendo as reprises dos jogos das tardes de domingo na tela da Globo fingindo que não sei o que virá a seguir. E nessas de fingimento, me proponho a torcer pelo perdedor. É estranho torcer pelo adversário. Mas é, ao mesmo tempo, seguro, porque a gente sabe o resultado.

Nesse domingo que recém passou, por exemplo, quando a Globo reprisou a final da Copa do Mundo de 1994, aquela em que o Brasil conquistou o tetracampeonato, eu torci pela Itália. E vibrei com as defesas do Pagliuca e com as jogadas do Baresi, do Donadoni, do Maldini…!

Torci até para o Roberto Baggio acertar o pênalti contra o Taffarel. Tudo de pura mentirinha, claro. Como eu disse antes, fica fácil torcer pelo inimigo quando a gente sabe que ele será derrotado. A vida em reprise não tem graça. Tomara esse vírus vá logo embora. E que volte o bom suspense!