O tema da crônica de hoje deveria ser o bom momento dos times acreanos na série D. Afinal de contas, Atlético e Rio Branco, neste momento, são cem por cento na referida competição: dois jogos, duas vitórias, uma dentro e outra fora de casa. Ótimas largadas. Ótimas mesmo.
Eis que, porém, o destino mete o seu bedelho na história e traz um assunto mais, digamos, urgente. Um assunto, sim, desagradável, mas impossível de não se dedicar pelos menos algumas linhas a ele. Justamente a passagem para outro plano do competente preparador de goleiros Adriano.
Apesar do nome de imperador, Adriano era de uma humildade a toda prova. Sempre lhe bastou muito pouco. Pode-se dizer até que a noção de império dele era a de um campo de futebol. Melhor dizendo, de uma trave, onde o goleiro precisava ter absoluto domínio. E ele lutou sempre por isso.
Natural da Paraíba, Adriano começou o seu amor pela bola muito cedo. Ainda adolescente, ele já se dedicava a impedir que os times inimigos mandassem a bola para as suas redes. Sempre treinou até a exaustão. Ele tinha verdadeira obsessão pelos detalhes e segredos da profissão de goleiro.
E ele foi um cigano da bola, tanto que saiu da sua terra natal e foi migrando até o extremo oeste do continente sul-americano, até a cidade boliviana de Cobija, onde, depois de ajudar várias gerações de goleiros a se firmar, finalmente entregou o corpo de 63 anos à terra de um cemitério.
Para a Amazônia, especificamente para o Acre, Adriano migrou no ano de 2007. Ele estava trabalhando no futebol do Distrito Federal. Ele foi indicado para a Adesg pelo treinador Marquinhos Bahia, campeão estadual pela mesma Adesg no ano anterior. Adriano veio e nunca mais quis voltar.
No futebol acreano, Adriano emprestou sua competência e sua dedicação a várias equipes. Além da Adesg, ele também treinou os goleiros do Juventus, Alto Acre, Amax (Xapuri), Rio Branco e Plácido de Castro. Por estes dois últimos, inclusive, sagrou-se campeão estadual. Era, de fato, um vencedor!
Cigano que era da bola, ele não recusava um bom desafio, muito menos escolhia o lugar aonde iria em seguida. E assim, desde o ano passado, Adriano aceitou a convocação para treinar os goleiros do pequeno time do Miraflores, em Cobija-Bolívia, capital do Departamento de Pando.
A bola era uma extensão do ser do treinador de goleiros Adriano. Em nome dela, ele viveu intensamente a sua história, realizou as suas fantasias e, por ela, o seu coração bateu por mais de seis décadas. O mesmo coração que decretou o seu impedimento na semana passada. Que descanse em paz!