Sempre que passo uns dias no Acre, meu estado de origem, e estendo horas de conversas com ex-boleiros do futebol local, saio com o meu baú de histórias pra lá de recheado. Foi o caso da minha passagem pela terra de Galvez, Plácido, Chico e assemelhados no primeiro semestre deste ano.
A conversa com o ex-artilheiro Danilo Galo, por exemplo, me rendeu uma historieta da decisão do campeonato acreano de 1967, quando se defrontaram no campo o Vasco da Gama (time do Danilo) e o Grêmio Atlético Sampaio (GAS), criado por oficiais da 4ª Companhia de Fronteira.
Na década de 1960, o Vasco da Gama, sob o comando do professor Almada Brito, formava equipes fortíssimas. Tanto que chegou a ser finalista do campeonato em quatro oportunidades: 1963 (vice para o Independência), 1964 (vice para o Rio Branco), 1965 (campeão) e 1967 (vice para o GAS).
Enquanto isso, o GAS, fundado em 1964, por acaso (ou não) no ano do golpe militar que extinguiu as liberdades democráticas no país, alinhava todos os jogadores que serviam na unidade. Era prática comum, inclusive, incorporar à citada 4ª Companhia quem pudesse vestir a camisa da equipe.
Tratava-se de dois timaços, como se pode constatar nos registros da época. No GAS destacavam-se nomes como o goleiro Monteiro, o lateral Chico Alab, e os zagueiros Viana e Palheta. Já pelo lado do Vasco, eram companheiros do Danilo, entre outros, os atacantes Damásio e Jersey.
Jogo duríssimo, como em toda decisão que se preze. O GAS abriu dois a zero ainda no primeiro tempo. Mas o Vasco partiu para o tudo ou nada na segunda etapa, conseguindo o empate antes dos 20 minutos. E aí veio o gol da vitória do GAS, já perto do final da partida. GAS campeão, 3 a 2.
Até essa altura dos fatos, nada de novo. Tudo isso que eu disse até aqui está nos registros históricos. O detalhe que me foi contado agora pelo Danilo Galo diz respeito ao fato de o árbitro daquela final ter almoçado um “cozidão” horas antes do jogo no quartel da 4ª Companhia de Fronteira.
“Fizeram uma covardia com o nosso time. Levaram o juiz para almoçar no quartel. Não posso afirmar que deram alguma coisa pra ele. Mas só o fato de leva-lo para almoçar já o tornou suspeito. O certo é que ele não nos deixou jogar. Tudo era falta a favor dos caras”, disse o Danilo Galo.
O Grêmio Atlético Sampaio teve vida efêmera. Disputou competições entre 1964 e 1968. O único título conquistado foi esse de 1967. O Vasco, por sua vez, do qual não se pode dizer ter levado algum dia um árbitro para almoçar na Fazendinha, está vivo até hoje. E até já foi campeão profissional!