O técnico Álvaro Miguéis diz que tirar o Galo da fila foi uma emoção indescritível. Foto: Manoel Façanha

Álvaro Miguéis: técnico foi campeão acreano com jogadores dirigidos por ele desde a base

O técnico de futebol Álvaro Miguéis, campeão acreano de 2016, dirigindo o Atlético Acreano, é uma dessas criaturas que respiram o esporte em tempo integral. Ele dorme e acorda pensando numa bola. E isso desde a infância, quando jogava nos infantis e via o seu pai, Ariosto, comentar em casa a sua rotina como treinador do Andirá e do próprio Atlético.

Na adolescência, Álvaro ingressou nos juvenis do Rio Branco. Era atacante, jogando ao lado de outros garotos promissores, como os armadores Paulo Henrique Andrade e Richard Leitão, o também atacante Leco e os zagueiros Denilson e Adônidas. O time foi campeão invicto do certame de 1981, vencendo na final o arquirrival Atlético Clube Juventus.

Rio Branco campeão invicto do certame de juvenis de 1981. Álvaro Miguéis é o primeiro agachado. Foto/Arquivo Álvaro Miguéis
Rio Branco campeão invicto do certame de juvenis de 1981. Álvaro Miguéis é o primeiro agachado. Foto/Arquivo Álvaro Miguéis

Em 1983, aos 19 anos, apesar de o Rio Branco ter montado um elenco cheio de estrelas, Álvaro foi promovido para a equipe principal. O time foi campeão invicto. “Nós ganhamos os três turnos nesse ano”, relembrou Álvaro. Daí veio um hiato de dois anos na carreira. Em 1984, ele fez o serviço militar. E no ano seguinte mudou-se para o Rio de Janeiro.

Depois dessa parada, Álvaro voltou para casa, jogando uma temporada pelo Atlético Acreano, em 1985, sob o comando do técnico Fuzarca. Mas, então, veio a fatalidade: um acidente de moto o tirou dos gramados durante dois anos. Ele só voltou em 1987, para defender o mediano Amapá, no campeonato estadual e no Copão da Amazônia.

Foi o canto do cisne de Álvaro como jogador. Ele resolveu se preparar para ser treinador. Parte da preparação foi cursar Educação Física. Em 2005, graduado, ele foi estagiar nas categorias de base do Juventus. A base virou sua paixão. Tanto que ele, anos depois, em 2016, sagrou-se campeão dirigindo um time com garotos que ele formou desde o mirim.

Nas linhas seguintes, são evidenciados alguns pontos do pensamento desse profissional de 52 anos (ele nasceu em 17 de março de 1964) e cheio de esperanças de melhoria do futebol acreano.

O futebol e a vida

O técnico Álvaro Miguéis durante preparação do Galo Carijó para a disputa da Copinha 2011. Foto: Manoel Façanha
O técnico Álvaro Miguéis durante preparação do Galo Carijó para a disputa da Copinha 2011. Foto: Manoel Façanha

“O futebol representa tudo para mim. É a maior diversão. Eu assisto futebol direto pela televisão. E quando não estou assistindo, eu estou treinando algum time ou, no mínimo, conversando sobre o assunto. Eu desde criança sou fanático por futebol. Tanto que tinha vez que eu fugia de casa para jogar. E, na volta, era uma surra na certa. Mas nem assim eu desisti. Pelo contrário, penso que evoluí”.

Decisão de ser treinador

Álvaro Miguéis diz que foi estudar primeiro para depois enveredar pela profissão de treinador. Foto/Augusto Diniz
Álvaro Miguéis diz que foi estudar primeiro para depois enveredar pela profissão de treinador. Foto/Augusto Diniz

“Havia uma banca de dominó perto da minha casa, no bairro 15, e eu, ao tempo em que jogava, ficava falando de futebol, táticas, estratégias, essas coisas. Então os meus amigos lá do dominó, bem como os meus familiares, isso quando eu chegava em casa, ficavam me dizendo que eu devia aplicar aquele meu conhecimento e a minha paixão à beira do gramado. Foi aí que eu resolvi levar a coisa a sério e decidi cursar Educação Física na Universidade Federal do Acre. Fui estudar primeiro para depois enveredar pela profissão. Apesar dos pesares, acho que fiz a coisa certa”.

Campeão acreano

“Significou muito eu me sagrar campeão acreano com o Atlético, na posição de treinador. Significou o coroamento de um trabalho com meninos que eu trouxe desde a categoria mirim. E, melhor ainda, o prazer de ser campeão pelo clube do meu coração e do coração da minha família, e que não conquistava um título há 25 anos. Tirar o Galo da fila foi uma emoção indescritível. Uma conquista que não tem preço. Não tem mesmo como dimensionar essa conquista. Eu havia prometido a um amigo que seria campeão acreano e brasileiro. Cumpri a primeira parte”.

Atlético-AC campeão acreano 2016 - de pé: Elison Azevedo (gestor de futebol), Edivandro, Tião, Adriano Louzada, Matheus Damasceno, Ailton, Diego, Douglas, Mendes, Renato, Alfredo, Rafael Barros, Pé de Ferro, Franco, Alceivo, Leyf Barros (fisioterapeuta), Maurício (aux. técnico), Álvaro Miguéis (técnico); Agachados: Jean, Tidal (preparador de goleiros), Psica, Fellype, Leandro, Tragodara, Januário, Eduardo, Toró, Polaco, Léo, Josy e João Alberto (prep. físico)
Atlético-AC campeão acreano 2016 – de pé: Elison Azevedo (gestor de futebol), Edivandro, Tião, Adriano Louzada, Matheus Damasceno, Ailton, Diego, Douglas, Mendes, Renato, Alfredo, Rafael Barros, Pé de Ferro, Franco, Alceivo, Leyf Barros (fisioterapeuta), Maurício (aux. técnico), Álvaro Miguéis (técnico); Agachados: Jean, Tidal (preparador de goleiros), Psica, Fellype, Leandro, Tragodara, Januário, Eduardo, Toró, Polaco, Léo, Josy e João Alberto (prep. físico)

O que faltou para o título da série D

“O que faltou foi, simplesmente, fazer os gols que perdemos contra o Moto Clube, tanto no jogo de ida, em São Luís, quanto na partida da volta, em Rio Branco. Foi um absurdo de desperdício. Nunca vi aquilo em toda a minha vida. Fora isso, nós tivemos algumas falhas individuais inaceitáveis. Falhas que não costumávamos ter. Não credito isso a nervosismo, ou coisa que o valha. Para mim foi um acidente, coisas do futebol. Mas tem ainda um componente que deve ser ressaltado: a questão de que os nossos jogadores não são profissionais em tempo integral. Eles não ganham o suficiente com o futebol para se dedicarem integralmente ao esporte”.

A passagem pelo Nacional-AM

Miguéis diz que contusão do Polaco, do Tragodara, do Careca, do Rafael e do Alfredo, além da suspensão do Eduardo, prejudicaram o Nacional-AM. Foto/Assessoria Nacional
Miguéis diz que contusão do Polaco, do Tragodara, do Careca, do Rafael e do Alfredo, além da suspensão do Eduardo, prejudicaram o Nacional-AM. Foto/Assessoria Nacional

“Quando o Atlético foi desclassificado da série D, um diretor do Nacional-AM procurou os dirigentes do Galo para me contratar e mais 13 dos jogadores acreanos. No começo, com todo mundo em forma, tudo correu bem. Empatamos o primeiro jogo contra o São Raimundo, numa atuação desastrosa da arbitragem, e ganhamos o segundo jogo do Fast, que depois seria campeão estadual. Depois disso, com a contusão do Polaco, do Tragodara, do Careca, do Rafael e do Alfredo, além da suspensão do Eduardo, aí a coisa desandou. Mas acho que o trabalho foi legal”.

Planos para o futuro

Álvaro Miguéis explica que ajuda financeira é necessária para o acesso. Foto/Manoel Façanha
Álvaro Miguéis explica que ajuda financeira é necessária para o acesso. Foto/Manoel Façanha

“Nós vamos dar continuidade ao trabalho no Atlético Acreano, sob a presidência do Élisson Azevedo. A ideia é conquistar novamente o título estadual e disputar em alto nível as outras três competições estabelecidas no calendário: Copa Verde, Campeonato Brasileiro da série D e Copa do Brasil. Aonde chegaremos, não posso garantir, mas a ideia é chegar longe. O futebol acreano merece chegar longe. E eu vou me dedicar para isso. Agora tem uma coisa: precisamos de apoio, ajuda financeira mesmo. Esse ano faltou isso. Um melhor apoio financeiro é crucial”.