Antigamente, quando o calendário do futebol brasileiro era mais, digamos, ameno, era rotineiro os grandes clubes de futebol saírem fazendo amistosos pelo Brasil ou pelo exterior, para faturar uns quantos “níqueis”. Havia situações em que os tais clubes excursionavam por mais de mês.
Os jogos não valiam pontos ou títulos, por isso eram chamados de amistosos. No mais das vezes, porém, quando a bola corria nos gramados, o que deveria ser um jogo meia boca se transformava numa verdadeira guerra, com os atletas de ambos os lados disputando os lances na maior disposição.
O empenho dos jogadores anfitriões era justificado porque eles viam ali a sua grande oportunidade para mostrar o que sabiam, entendendo que se jogassem bem talvez despertassem o interesse dos dirigentes visitantes e, quem sabe, poderia pintar um convite para seguir junto com a delegação.
Os jogadores visitantes, por seu lado, profissionais que eram, com todo o cartaz que carregavam, ídolos de milhões de torcedores, não admitiam em hipótese nenhuma sofrer algum tipo de revés para os times do interior, grande parte destes, inclusive, ainda jogando em pleno regime amador.
Então, nesse caso, com os “craques”, de lado a lado, cobertos de argumentos convincentes, não raro todos tratavam de suar sangue para sair de campo vencedores. Sendo assim, numa época em que os árbitros só podiam usar os próprios olhos e os bandeirinhas, valia de tudo um pouco.
Valia de uma boa malandragem até baixar a porrada nos jogadores mais habilidosos dos respectivos adversários. Dedada na bunda, areia nos olhos dos defensores “inimigos”, cotoveladas, bicudas nas canelas, xingamentos em voz baixa, ameaças de morte. Valia até jogar só na bola!
Enquanto escrevo, me vem à memória duas situações nessa onda do vale tudo, ambas no vetusto estádio José de Melo. Uma delas, em 1966, num empate entre Juventus e Flamengo do Rio de Janeiro. A outra, em 1971, numa vitória do Juventus sobre o igualmente carioca São Cristóvão.
Na primeira situação, o Juventus batia o Mengão por 2 a 1, já no apagar das luzes. Aí, num escanteio contra o Juventus, o atacante Almir, do Flamengo, segurou o goleiro Zé Augusto pelo calção, o impedindo de saltar. O atacante César Maluco, então, subiu sozinho e fez o gol com a mão: 2 a 2.
Na outra situação, o ponteiro-esquerdo Nilson, do Juventus, barbarizava pra cima do lateral-direito Triel, do São Cristóvão. Aí alguém no banco visitante disse para o Triel botar ordem na casa. Na próxima dividida, o lateral tirou o Nilson de campo com uma patada no tornozelo!