Francisco Dandão
Antônio Maria Freire Passos, considerado um dos maiores laterais-esquerdos da história do futebol acreano, nascido em Xapuri, no dia 17 de outubro de 1950, defendeu um único clube na sua carreira de 15 anos de bola (1966 a 1981): o Atlético Clube Juventus, do qual foi um dos fundadores. Fora isso, ele jogou apenas no Esporte Clube Leão e no Colégio dos Padres.
“O Esporte Clube Leão era um time infantil, formado por garotos cuja maioria morava no bairro da Base. O dono das camisas era o falecido jornalista Albertino Viana Chaves. E o Colégio dos Padres era o time da escola onde eu estudei o primeiro grau. Justamente o que deu origem ao Juventus, na segunda metade da década de 1960”, contou Antônio Maria.
“O time do Colégio dos Padres era bom demais. De julho de 1965 a janeiro de 1966 nós vencemos seis jogos no interior. Em Sena Madureira ganhamos duas vezes do Comercial, 3 a 2 e 3 a 1, e uma vez da seleção, 3 a 1. Em Boca do Acre, goleamos a seleção municipal por 5 a 2. E em Xapuri, ganhamos da seleção duas vezes, ambas por 3 a 2”, disse o ex-lateral.
Na equipe juvenil do Juventus, Antônio Maria começou como lateral direito. O Rubro Negro da Águia nasceu com aspirações de time grande e formou um elenco extremamente qualificado para os padrões regionais. O ex-craque lembra de alguns nomes que participaram daquela primeira formação: “Bestene, Tancremildo, Juca, Messias, Milton, Nostradamus…”.
Mudança de lado no time principal
Quando subiu para o time principal, em 1968, convocado pelo técnico José Aníbal Tinoco, Antônio Maria foi escalado na ponta-esquerda. O jogo foi um amistoso contra uma equipe de Porto Velho. Apesar de não ter jogado mal, logo depois ele passou a ocupar a lateral-esquerda, quando Tinoco percebeu que ele podia defender e atacar com a mesma desenvoltura.
Antônio Maria era destro, mas não havia vaga na lateral-direita. A posição era ocupada pelo ótimo Carlos Mendes. E outro juvenil talentoso, o Mauro, já pedia passagem. Havia uma brecha na lateral-esquerda, cujo titular se chamava Rômulo. Bom jogador, mas extremamente temperamental. Aí o clássico Antônio Maria passou a reinar absoluto na referida faixa do campo.
Logo, Antônio Maria passou a ser uma das referências técnicas da equipe. “Mesmo jogando pelo lado do campo, eu participava diretamente da organização do time. Quando os adversários congestionavam as nossas ações pelo meio, a gente passava a jogar pelas laterais. Eu de um lado e o Mauro do outro. Virei até artilheiro. Fiz uns 80 gols”, garantiu o ex-craque.
Em 1976, contratado como professor pela Universidade Federal do Acre, Antônio Maria teve que dar um tempo do Juventus para fazer uma especialização na Universidade de São Paulo. Voltou a jogar em 1977. Mas aí sobreveio nova parada. Dessa vez para cursar mestrado no Rio Grande do Sul. Depois disso só jogou em 1981. Pendurou as chuteiras aos 31 anos.
O apelido de “príncipe” e o convite do Botafogo
Na segunda metade da década de 1970, Antônio Maria passou a ser chamado de “príncipe do futebol acreano”. O falecido jornalista José Chalub Leite é quem começou a chama-lo dessa forma. A justificativa para o apelido era a maneira como o lateral se comportava em campo, sempre desarmando o adversário sem apelar para algum tipo de artifício violento. Um gentleman!
“Acredito que o Zé Leite passou a me chamar assim porque eu atuei em mais de duzentos jogos sem sofrer advertências. Nunca fui repreendido. Tanto que até me habilitei a ganhar o Prêmio Belfort Duarte [para atletas que completavam dez anos sem uma expulsão]. Só não ganhei esse prêmio porque o processo sumiu na Federação Acreana”, explicou Antônio Maria.
Talvez pela identificação com o Juventus, Antônio Maria jamais foi sondado para defender outro clube do Acre. Convite mesmo para mudar de camisa só aconteceu uma vez, logo no início da sua carreira. Foi em 1968, depois de uma visita a Rio Branco do já aposentado lateral Nilton Santos. Este o indicou para o Botafogo-RJ. Por ser arrimo de família, ele não aceitou.
Aposentado e morando em Foz do Iguaçu-PR, Antônio Maria ainda hoje bate as suas peladinhas, com a classe de sempre, às quintas, na Associação Água Benta, e sábados, no Grêmio Esportivo e Social. Mas não frequenta estádios. Disse que prefere ficar no sofá de casa, acompanhando o campeonato brasileiro pela TV, principalmente os jogos do seu Botafogo.
(Texto originalmente publicado em Futebol Acreano em Revista – Edição nº 9 – Dezembro de 2019)