Aposentadoria

Francisco Dandão


Aposentei! Dia 8 de maio recebi minha portaria. Fiquei 39 anos na ativa, 35 deles na Universidade Federal do Acre (Ufac). Os outros quatro anos eu trabalhei numa secretaria de Estado chamada Fomento Econômico. O Aquinei, meu último chefe, postou no facebook a minha despedida. E o amigo Gualter Craveiro deu-me as boas vindas ao clube dos velhinhos.

Penso que agora terei muito mais tempo para exercer a minha maior especialidade: o ócio. Mas pretendo que seja um ócio do tipo criativo, como teorizou o sociólogo italiano Domenico de Masi. O ócio criativo é aquele que não deixa você ficar sem fazer nada. Mesmo que não se tenha um compromisso formal, deve-se continuar exercitando alguma produção.

Tanto pretendo continuar a exercitar alguma produção que até já escrevi este texto que você lê neste momento, meu caríssimo e dileto leitor. Naturalmente que agora as condições de produção são outras. Antes, eu escrevia num aposento cuja janela dava para uma garagem. A vista atual são alguns edifícios, espreitados por uma belíssima abóbada azul celeste.

Explico a mudança de ambiente. É que eu morava numa casa de conjunto habitacional, no Jardim Tropical, em Rio Branco, mas agora mudei para um apartamento de nono andar, num bairro chamado Mucuripe, em Fortaleza. O Mucuripe é aquele mesmo daquelas velas que iam sair para pescar, imortalizadas há algumas décadas numa canção do Fagner.

Mudar de região foi uma das minhas primeiras providências depois de aposentado. Não que eu tenha algum tipo de restrição pelo Acre, meu Estado natal, onde passei a maior parte da minha existência de 58 anos. Mas é que eu sempre fui mesmo meio nômade. Adoro estar num lugar num momento e depois não estar mais. Percorrer caminhos é o meu destino!

Mas tomei também outras providências. Uma delas, que eu imagino estar entre as principais, foi depositar o relógio de pulso no fundo de uma gaveta. É uma verdadeira delícia não usar relógio, não estar consultando esse aparelhinho “diabólico” todo tempo e correr de um lugar para outro. Por esses dias, durmo quando tenho sono e como quando sinto fome.

As calças eu ainda não aposentei de vez, porém tenho reforçado o estoque de shorts e bermudas. Minhas canelas finas me conduzem de um ponto ao outro da beira-mar de Fortaleza. Sempre pela sombra ou no final da tarde, que o sol é forte e eu já nasci bronzeado. O resto da indumentária é um chinelo velho e uma camiseta com a inscrição “esse cara sou eu”.

Sobre o futebol, devo confessar que ainda não me decidi sobre qual será a minha próxima paixão. O Ceará, nome do Estado, é uma espécie de todo que abrange várias partes; o Fortaleza, nome da capital, é parte significativa desse todo. A parte não vive sem o todo, da mesma forma que a este não interessa perder um pedaço. Acho que vou torcer pelos dois!