Aquecimento

O aquecimento global é um fato incontestável. Toda a agressão que a humanidade tem perpetrado contra o meio ambiente é a raiz do problema. Dessa forma, as estações do ano perderam as suas características. E assim, a gente não sabe com que roupa deve sair para um dia inteiro fora de casa.

Eu, por exemplo, não acerto nunca. Aliás, pra falar a verdade, eu erro sempre. Quando eu saio de casa com uma blusa leve, podem crer que mais tarde vai fazer um frio de círculo polar ártico (ou antártico, tanto faz). Mas se eu sair de casaco pesado, depois fará um calor de fritar ovo no asfalto.

Um amigo meu aqui no Rio, o Matucão, que eu já citei em outra crônica, pra não ser surpreendido pela variação climática, só sai de casa com uma mochila com tudo dentro. Da capa impermeável, passando pelo guarda-chuva, a uma tanga. Esta para o caso dele resolver dar um mergulho no mar.

Eu costumo me divertir com as precauções do Matucão. Mas só no começo do dia. Com o passar das horas, quando ele me vê sem saber o que fazer com uma chuva que cai repentinamente, no lugar de um sol de minutos atrás, aí quem se diverte é ele. “Um homem prevenido vale por dez”, diz ele.

Mas, mudando de pau pra cacete (como se dizia antigamente), o aquecimento que eu quero falar nesse texto de hoje não é, necessariamente, o global. O aquecimento que me interessa, pra efeito do preenchimento do meu latifúndio literário, é aquele dos atletas alguns minutos antes dos jogos.

Aquele aquecimento necessário para que os craques alonguem a musculatura e não corram muitos riscos de sofrerem distensões musculares. E para que, ao serem chamados pelo treinador para substituir alguém, já entrem em campo prontos para disparar rumo à linha de fundo inimiga.

Ao longo do tempo, com o avanço dos estudos de fisiologia, mudaram muito os métodos de aquecimento. Antigamente, no mais das vezes, uma corridinha de dois ou três minutos sem sair do lugar, mais alguns polichinelos, já era suficiente para deixar os sujeitos aptos para o combate.

Agora, não. Agora quase tudo é computadorizado. Os atletas vão fazendo a sua ginástica e as suas reações vão sendo armazenadas num computador. Dessa forma, o professor consegue saber quem precisa fazer maior ou menor esforço para que seja considerado devidamente aquecido.

Toda essa conversa me fez lembrar de um antigo treinador do futebol acreano chamado Olavo Pontes que, às vezes, mandava um atleta aquecer, mas depois mudava de ideia sobre quem deveria entrar. Aí, ante a revolta do preterido, dizia o seguinte: – Eu mandei aquecer só mesmo o calção!