Arbitragem eletrônica no futebol é uma ameaça à conversa de bar

A aprovação pela FIFA do uso de recurso eletrônico (no caso, a televisão) para auxiliar arbitragem em lances polêmicos, é uma ameaça às conversas de botequim. Como agora serão nas mesas de bar à discussão sobre gols suspeitos, pênaltis indevidos, impedimentos mal marcados e expulsões injustas?

A entrada em campo da arbitragem eletrônica extingue calorosos debates nos locais onde a arquibancada dos estádios ganha extensão em cadeiras de ferro mal ajambradas e mesas de plástico caquéticas, com copos e garrafas de cerveja espalhados sobre ela sem nenhuma ordem.

O que será daqui para frente quando tudo estará resolvido em campo, antes mesmo de se iniciar qualquer discussão mais prolongada? O que se levará para o botequim, além da certeza comprovada pelo tira-teima?

Com o recurso eletrônico, o futebol perde seu estrelato na mesa dos mais fétidos bares, que passará a ser dominada apenas pelos temas política e mulher – é capaz até do assunto religião ganhar mais força entre os debates, por conta da determinação da FIFA de mandar voltar uma bola que entrou no gol indevidamente, ou uma falta inexistente, por diferença de segundos.

Depois de tantos anos sem intromissão, o tira-teima vem para apartar as confusões e gritarias de pontos de vistas adversos no nosso momento de lazer. Quem irá explicar o que está certo ou errado é a televisão.

Depois de dizer a hora que devemos assistir aos jogos de futebol e como nossos times devem se submeter a ela, a tv, a partir desse instante, determinará também as nossas emoções extracampo.

A solução transforma o estádio do futebol em um templo da justiça. Ninguém sairá triste – mesmo que alguns fiquem decepcionados, todos serão acarinhados pela sensação do que é certo é certo. A medida veio em boa hora, do politicamente correto, do programado, do certinho.

Caminharemos para o bar com a sensação de dever descumprido. Não terá bate-boca, nem críticas injustas ao juiz nem tampouco aos atacantes trombadores e “piscineros” e zagueiros desprovidos de talento. As críticas serão mais formais e se destinarão majoritariamente aos defeitos do nosso próprio time.

O chato de bar mudará de lugar, perdendo o sentido da sua existência, que é baseada na crítica a partir do replay – como o recurso será usado imediatamente no gramado, perde-se um tema importante de sustentação da chatice.

Com o recurso eletrônico da arbitragem, a FIFA termina por completo o ciclo do imponderável no esporte mais popular do mundo – o igualando a NBA, ao Superbowl… Com mais essa regra, está definitivamente aberto o futebol para entrada dos Estados Unidos nesse fabuloso mercado. E nós na mesa de bar caçando assunto…